O Rio Grande do
Norte vive um dos momentos mais constrangedores de sua história política. Nunca
se viu, em décadas de vida institucional, um vice-governador relutar em assumir
o cargo máximo do Estado quando o titular se afasta. A resistência de Walter
Alves não é capricho, nem cálculo eleitoral trivial. É medo da herança. E o
medo tem razão concreta de existir.
Com a iminente
saída da governadora Fátima Bezerra para disputar o Senado, o que se desenha
não é uma transição administrativa normal, mas a transferência de um passivo
explosivo. O governo que se despede deixa um rastro de desequilíbrio fiscal,
compromissos empurrados para frente e um Estado à beira da insolvência
operacional.
Os sinais são
evidentes e alarmantes: atraso potencial na folha salarial, dívidas milionárias
com terceirizados e fornecedores, contratos essenciais sob risco de paralisação
e um rombo crescente no IPERN que ameaça aposentadorias e pensões. Some-se a
isso uma rede pública de saúde sucateada, hospitais operando no limite do
colapso e serviços básicos sustentados à custa de improviso.
Mais grave ainda
é a sombra da Lei de Responsabilidade Fiscal. O comprometimento da despesa com
pessoal, a fragilidade do caixa e o uso recorrente de soluções emergenciais
indicam possível infringência às normas fiscais. Quem assumir o governo não
herdará apenas um gabinete — herdará investigações, cobranças dos órgãos de
controle e um cenário jurídico altamente sensível.
Walter Alves
sabe que assumir agora significa carregar sozinho o ônus político e
institucional de um governo que se retira sem fechar as contas. Significa ser
responsabilizado por um caos que não produziu, mas que terá de administrar. E é
exatamente isso que expõe, de forma cristalina, o fracasso da gestão que se
encerra.
A tentativa de
tratar essa transição como algo trivial é desonesta. O Rio Grande do Norte não
enfrenta uma simples mudança de comando, mas o desfecho de um governo que
gastou discurso, inflou narrativas e deixou um Estado financeiramente exaurido.
Não é o vice que envergonha a história política do RN ao hesitar. O que envergonha é um governo que sai deixando terra arrasada. O mínimo que se exige agora é transparência total das contas, auditoria rigorosa e a clara identificação de quem criou a bomba — antes que ela exploda no colo da população.