Olá Gilberto.
Se possível, gostaria que divulgasse esse texto que escrevi.
Se possível, gostaria que divulgasse esse texto que escrevi.
Cultura, Cidadania e Democracia
Outro dia estava lendo a entrevista do prefeito municipal de Olho D’Água do Borges no blog ODB News e decidi escrever sobre algumas coisas que há tempo venho pensando acerca dos temas que intitulam este texto e sua relação com fatos ocorridos na cidade – embora queira deixar claro que não estou me referindo à entrevista em si, feita por Rony e Marcos, que fizeram a parte deles.
Faz um tempo, em uma conversa de ponta rua – que muitas vezes são as mais interessantes - com um vereador da oposição, uma frase em especial me chamou a atenção. Uma daquelas frases que grudam na cuca da gente e que completam, complementam algo que estamos pensando: “Esse prefeito quer destruir a história do município”. Isso se somou ao fato de que eu tinha experimentado um profundo descontentamento quando a administração municipal destruiu um dos prédios mais antigos e históricos do nosso município, o Prédio do Açougue Público de Olho d’Água.
Lembro que quando ia ao açougue com meu pai (Álvaro Lopes, mais conhecido como Fifi Lopes, agricultor e poeta) comprar carne na banca de Chico de Bernaldo ou de Nailton, ou de Manoel de Bernaldo, ficava sempre impressionado com aquela placa que tinha no açougue que registrava o período em que nossa cidade ainda era circunscrita à comarca de Almino Afonso. Esse era sempre o mote para iniciar ou continuar a minha conversa com papai sobre a história do nosso município que também foi vinculado aos municípios de Patu e Almino Afonso. Ir ao açougue era um acontecimento, pois comprar carne se configurava num pretexto para meu pai encontrar amigos, conversar, saber das notícias e discutir coisas – e eu ali escutando tudo.
E o prédio não continha apenas a parte do açougue, mas outras salas onde funcionaram grupos de teatro e muitas outras instituições do município. Tudo isso foi extinto em apenas um instante. Pois é, aquelas paredes impregnadas de história e de cultura foram destruídas e agora o prefeito fala em construir ali uma Casa de Cultura. Isso é um paradoxo sem tamanho. Aquele prédio deveria sim ser restaurado e não destruído. A maior riqueza daquele lugar eram suas paredes, suas fachadas.
Quando aquele amigo me falou aquela frase lembrei de que nada mais totalitário, egocêntrico (pessoa que olha apenas para o próprio umbigo) e personalista do que um governante destruir a história de um povo. Ao reconstruir a história é como se o mundo passasse a existir apenas a partir daquela administração. Ou seja, indivíduos totalitários sufocam a oposição política, destroem a história para que elas sejam a única fonte histórica e de atenção.
Lembro de uma conversa que tive uma vez com o prefeito e outras pessoas – quando ingenuamente pensava em aplicar um projeto de estudo na escola municipal (como se cultura e educação de fato interessassem a pessoas com este perfil, lembro da dificuldade que tive para explicar o que queria e porque isso era importante para os professores e estudantes – com o que obviamente não concordavam). Nessa conversa ele me falava da sua intenção de reformular o nosso mercado público e que estava encontrando resistência da população e de donos de estabelecimentos. O que para ele é algo arcaico, é, na verdade mais um capítulo de história do nosso município. É lá que está - ou que estava porque parece que caiu - a placa com o nome de Germano, um dos construtores do município, que por ser pobre e negro nem sempre lhe é dado o verdadeiro crédito e mérito merecidos. Vale lembrar que a palavra arcaico vem da palavra grega arché que em português seria traduzido para primórdio, início, origem. Ganhou a conotação de algo negativo porque o Ocidente moderno quando mudou o seu sistema de representação política tentou apagar todo o tipo de conhecimento que tinha vindo antes. É por isso que ainda hoje estudamos nos livros de história que a Idade Média foi apenas uma época de trevas e obscurantismo – como se vivêssemos algo muito melhor no período mundial atual. Cabe-nos não deixar que aconteça com o Mercado Público o que ocorreu com o açougue.
Igual exemplo de totalitarismo é se autoproclamar portador da opinião pública, ao dizer que “Aqui tem cidadania”. Governante nenhum pode dizer algo que é prerrogativa do povo. Palavras como Cidadania e Democracia são pertencentes ao mundo do indizível, ou seja, não são quantificadas, são sentidas, não podem ser medidas, mas experimentadas. A partir do momento em que eu digo que minha gestão é cidadã, ou democrática, eu estou matando automaticamente a possibilidade desta o ser. A autopropaganda é algo totalmente contrário ao ideal de democracia e/ou cidadania. É bom que se diga.
A cultura não se cria por um ato isolado de vontade, ela se faz por si, assim como a democracia e a cidadania é um processo característico da representação de todos e não de um governo ou de outro.
Embora a Constituição da República seja uma instituição burguesa (e como dizia o poeta “enquanto houver burguesia, não pode haver poesia”), nela está escrito que o poder emana do povo. Portanto o poder é nosso, o município é nosso, portanto não deixemos que decidam as coisas por nós. Nesse sentido, os blogs são instrumentos muito importantes para a disseminação da informação, antes restrita apenas aos proprietários do poder.
Como podemos extrair do texto bíblico, “levanta-te e anda homem”, pois, “não importa o que fizeram de você, mas o que você faz daquilo que fizeram de você” como coloca o filósofo Jean Paul Sartre.
Um abraço a todos.
Adaecio Lopes.
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