Nuvens negras de um Estado mórbido degeneram
aviltantemente a figura mais nobre do processo educacional: o professor.
Este elemento poderá ser julgado, preso e condenado
se insistir em compartilhar da merenda distribuída nas escolas pelas entidades
responsáveis.
Verdade, medida judicial não se discute, se cumpre.
O governo agradece concomitantemente. O problema é do professor, ele que se
vire. Não há o que reclamar.
O governo ostenta sua gestão, esclarecendo que está atendendo aos Princípios
da Legalidade e da Eficiência do Serviço Público. Grande eloquência e
exemplo de moralidade. Contudo, não sei se merece nossos aplausos.
Crianças que não chegam às escolas por falta de
transporte escolar, estruturas físicas em ruinas, desabando sobre as cabeças de
alunos, funcionários e professores, por falta de manutenção. Educadores
estressados e desmotivados, salários aviltantes, desvios de recursos públicos
por vias corruptivas, um caos que se generaliza, um torpedo que explode nas
estruturas de uma educação decadente.
Exemplo de moralidade e eficiência dessa ideologia
dogmática executada por legítimos representantes da classe trabalhadora.
Lotes de remédios vencidos ou não, encontrados nos
lixões, toneladas de alimentos estragados, crianças passando fome, pessoas
morrendo por falta destes mesmos medicamentos e a sociedade estarrecida e
impotente diante deste descalabro administrativo governamental.
Além da queda, o coice. Professores impedidos de
alimentar-se da merenda escolar. Cedo, às pressas, se levantam, café da manhã
nem pensar, o tempo não espera, duas ou três escolas, varias conduções para ao
destino chegar. Hora marcada, compromisso formalizado. Uma verdadeira proeza na
execução de suas atividades pedagógicas em circunstâncias tão adversas.
Atitude impensada, inadmissível e irresponsável,
negar ou impedir que o educador usufrua da alimentação escolar. Negar este
benefício é imprimir um atestado de incompetência, desqualificar a valorização
deste profissional é jogar a educação na lata do lixo.
O Estado e o Ministério Público têm coisas mais
importantes para se preocuparem. Ofertar um pão ao professor que tanto colabora
didática e pedagogicamente para o desenvolvimento cultural e intelectual da
nação não pode ser considerado algo errado. Errado mesmo é esta atitude
medíocre e mesquinha, incompreensível para homens e mulheres de bom senso.
Nos palácios e ministérios da vida todos se
alimentam. Hora marcada, café pomposo, merenda excepcional, quem paga a conta?
Sim, a lei 11.947 de 2009 foi feita por eles, não para eles, mas para nós. Sim,
estes mesmos senhores que por nós passaram, que aqui estudaram, que os formamos
para vida e aos quais, em modéstia parte, contribuímos para que se tornassem
excelentes profissionais. É desta forma que eles nos agradecem. Sim, este é o
reconhecimento.
Caros colegas professores. “Se vocês tremem de
indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros” (Che
Guevara).
Senhores representantes, governantes e magistrados,
nós que aqui estamos, por vós esperamos.
“O maior
prazer de um homem inteligente, é bancar o idiota diante de um idiota, que
banca o inteligente” (Confúcio).
Severino
Ramos de Araújo
Graduado
em Historia pela UFRN
Profº do
Centro de Educ. de Jovens e Adultos Profª Lia Campos
Natal –
RN, 28 de agosto de 2011
Muito bom esse texto, isso representa o sentimento de indignação da categoria, além de expressar um tratamento de insignificância e desconforto que o sistema, através dos instrumentos de repressão, tem para conosco, que não é diferente do que tem com o povo que paga imposto e precisam do dos serviços públicos.