Olho D'água do Borges/RN -

A politica é algo limitado

Almoço em um restaurante popular. Gosto daquele lugar. Ali comem mendigos, vendedores, funcionários, bancários, advogados, professores, estudantes, moto-táxis, prostitutas, viciados, alcoólatras, loucos e marginais de todo tipo. No fundo, lá todo mundo é igual. Todo mundo portando seus Cinqüenta Centavos de Real esperando o alimento. Se essa palavra já não fosse tão gasta diria que aqui existe democracia.

Ali não há políticos. A vida acontece normalmente. Não precisamos ficar representando muito naquele universo. Precisamos sim nos alimentar. A vida passa numa certa objetividade. Outro dia um louco me falou (porque só os olhos e as crianças são verdadeiros): “se alguém me olhar com desprezo eu digo: ei você não é grande rico não, se fosse não estaria aqui.”

Fico pensando, às vezes, como a política é incapaz de se comunicar com este mundo. Na sua missão de sempre fazer o melhor acaba fantasiando a vida e não dando atenção àquilo que a vida tem de mais importante que a própria vida, as angustias humanas, os personagens da vida, o paradeiro do tédio e da melancolia, as dores de amor, as seqüelas dos vícios, a poesia do marasmo do dia...

Lembro do meu feudo paraíso, Olho D’água do Borges – sim porque concordo com aquilo que falou Câmara Cascudo: “quem é do interior e de lá vive distante, possui duas vidas”.  Lá começam a se estruturar as coalizões de força para o embate político que se avizinha. Mas o modelo é o mesmo! De um lado o anjo que a todos ajuda e a tudo tem acalento e para todos os problemas a solução. Do outro o demônio que segundo o entendimento de muitos não tem nada a oferecer.

Mas o problema meus amigos é bem mais complexo do que isso. Ou melhor, aquilo a que me reportarei é bem mais essencial. Não podemos fazer da política o significado de nossa vida. Ela nunca suprirá as necessidades essenciais de um ser humano. A política é o universo pragmático, como quando vamos ao banco e pagamos a conta de água ou luz.

Ou seja, não importa o quanto o político faça para a cidade, quanto ele diga que é bonzinho ou bom administrador. Sempre restará um certo cheiro de ralo que nos chega a todo instante, não importa o quanto o político ou nós mesmos o empurremos para o mais longe possível. Esse cheiro de ralo é dele e nosso!

Acontece que todos nós ansiamos por salvação, por mudança como se a mudança nos trouxesse o tão esperado reino dos céus. Isso porque sempre acreditamos que Deus está fora de nós, o que nos salvará virá de fora. Por igual motivo estamos à espera do Cristo a toda hora. E o irônico disso é que Cristo chega alguns instantes e muitas vezes muitas pessoas nem percebem. A tradição ligada ao Budismo e outras correntes de sabedoria apresentam certo avanço nesse sentido, acreditam que nós temos um papel decisivo para o encontro com o divino e com a nossa própria felicidade, nossa paz de espírito e desenvolvimento da sensação de completude.

Mas voltando ao que dizia, precisamos de mudanças, para nos iludirmos, seja uma nova garota (ou garoto para as meninas, óbvio), seja a idéia de que o mundo vai se acabar, que os ET’s invadirão a Terra, ou mesmo uma eleição. A guerra, o trágico, o embate, o medo, a sensação de estarmos num certo momento em uma situação e não sabermos necessariamente como se sai dela parecem nos seduzir.

Mas veja a eleição nunca resolverá nossos problemas maiores, não adianta se enganar e achar isso. Não conseguiremos fugir de nós mesmos ao gritar a vitória de um candidato, nem mesmo ao assumir um emprego fruto daquele pleito. Isso porque o financeiro também, óbvio, não resolve tais questões existenciais já citadas. É como dizia um amigo numa dessas noites em que voávamos pela cidade como no filme Meninos Perdidos: “um pobre muitas vezes pensa que essa vida é uma merda e que não tem nenhum sentido. Mas o capitalismo e o poder não resolvem isso, porque um alto milionário também sente essa vontade de se matar constantemente!”

A política é intelectual, vem do mesmo mecanismo que cria a noção de poder, status e subjugo. Afinal já estamos cansados de ver as fotos dos eventos sociais bajulatórios em que inevitavelmente se converte a política!

A política é mental, e assim como a mente é algo superficial, nunca tratará do que realmente importa.

Depois da tempestade sempre vem a bonança e vice-versa. No mundo sempre foi assim. Um passo à frente e você não está no mesmo lugar, como dizia o Chico.

Não tenhamos medo, o mal nunca triunfará. Nem o bem!
Adaécio Lopes

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