Lixão de Olho D'água do Borges
Durante a
realização de mais um Projeto Trilhas Potiguares na cidade de Olho D'agua do
Borges uma situação chamou a atenção do estudante Renato Galdino, do curso de
Ciências Sociais (UFRN). O lixão, localizado no município, provocou comoção no
universitário que agora está mobilizando a sociedade através das redes sociais
a fim de despertar a atenção das autoridades para que o problema do lixo na
cidade seja resolvido.
Sobre o assunto,
O blog Trilhas ODB conversou com Renato Galdino na tarde da última quarta-feira
(26), acompanhe a entrevista:
Blog - Como
surgiu a iniciativa?
Renato
Galdino - Tinhamos
várias demandas relacionadas ao tema meio ambiente, dentre elas a problemática
da gestão dos resíduos sólidos, que foi trabalhada com a juventude, alunos da
Escola Estadual 20 de Setembro e Escola Municipal Antônio
Carlos de Paiva, através de palestras educativas, ministradas pela estudante de
Biologia, Erica Nascimento.
Um dos assuntos
abordados foi o Lixão e seus riscos, a degradação que ele causa no meio
ambiente, os perigos desse fenômeno tipicamente urbano para os habitantes da
cidade, o que fazer, e o que está sendo feito com o Lixo que produzimos.
Essa realidade
particularizada do município para muitos de nós trilheiros, permaneceu oculta,
e pouco problematizada, com a parte de quem também devia se interessar: os
gestores públicos. Não basta falarmos desse problema para a sociedade, se não
contamos com a presença dos gestores, e se não enxergamos destes a
contrapartida para solução do problema, que é grave.
A relação do ser
humano com a natureza, sempre muito contraditória, pois retiramos tudo do que
precisamos dela, exploramos exaustivamente seus recursos, sem nos preocuparmos
com os impactos adivindos disso; muito menos a preservação dos recursos
naturais para o presente e futuro das gerações, no caso, do povo de Olho
D'Água.
Como estudante
de Serviço Social, e ativista das questão ambiental, não fiquei contente por
ter observado isso. Comprometi-me em levar um pouco da Universidade para o
município, e levo comigo um pouco do município para Universidade - acredito
nisso como um dos aspectos para se fazer extensão universitária. Não somos
melhores dos que os outros, mas juntos podemos pensar a solução dos problemas
que lá existem, que não podem ser resolvidos em apenas uma semana. Todo
trilheiro por algum momento tem o intento de continuidade ao tratar de uma
problemática, que comumente deixa morrer pela falta de apoio institucional, e
contato com a comunidade local.
Queremos formar
multiplicadores das atividades; e deixamos esses multiplicadores lá, são
trilheiros igualmente - a marca do Trilhas, e deixando a marca para mostrar que
o projeto é importante, e não pode acabar. Com esse propósito, decidimos
estimular a comunidade, a exercer os seus direitos de cidadania, se mobilizando
em torno do exercício de uma consciência ecológica, que tem tudo a ver com a
qualidade de vida dos habitantes de ODB.
O lixo sem
qualquer tratamento é depositado relativamente bem próximo da cidade, não fosse
só isso, bem próximo aos reservatórios de água, de consumo humano, e de uso na
produção de alimentos, em meio ao cenário de caatinga, em pleno semi-árido
Norteriograndense, que muito sofre com o atual período de seca.
A contaminação
do solo e mananciais pelo chorume; a exaustão do solo e poluição do ar pelas
queimadas do lixo, acentuação da desertificação; o assoreamento; o
envenenamento do lençol freático - envenenamento da água que se consome - é um
fato concreto na região, gerando a proliferação de doenças; o aumento
de seus vetores, como ratos, moscas, baratas etc; o Açude sem vida, pela eutrofização
da água, enfim. Por informações dos próprios habitantes, já foi encontrado até
dejetos hospitalares, absurdo!
Não podemos
fechar os olhos para tudo isso, a sociedade de Olho D'Água do Borges, com
pernas próprias pode exigir do Poder Público alguma atitude,
mobilizar-se, intervir, denunciar. E os órgãos que podem fiscalizar, como
o Ministério Público, estar atento, fiscalizar, mediar alguma solução
urgente.
O município,
terra do safoneiro e cantor, Dorgival Dantas, será também conhecido pelo seu
Lixão? #ODBSEMLIXÂOJA
Blog - O Município está em meio a uma forte campanha política e
aparentemente nenhum dos candidatos a representar o povo de Olho D'agua do
Borges possui proposta de um projeto que possa sanar o problema do lixão na
cidade. Como você avalia isso?
Renato Galdino - Acho que o povo deveria se considerar também vítima deste sistema
que te obriga a votar de quatro em quatro anos. O cenário é típico de inteior
do Nordeste, vi poucas propostas e cidadania, mas sim, muito mais espetáculo,
nesse período, que dá uma nova dinâmica as cidades interioranas, e a ilusão da
democrática, mantendo-se as mesmas práticas "políticas", que ainda
não conseguimos superar, dentro do movimento histórico brasileiro.
Não
tive acesso as propostas dos canditados do grupo político A ou do grupo
político de B, da situação ou da oposição. Se incluírem a luta contra o Lixão,
faz-se como um dever, que a luta comece de agora.
Mas
o termômetro para saber quem está a frente de algo, em meu relato, são as
carreatas, que transformam o aspecto pacato de cidade de interior. Para
tentarmos tratar essa questão, como muitas outras, precisamos de pessoas
conscientes; não eleitores que muitas vezes vendem o que gerações passadas
conquistaram, dando a vida, por um tanque de gasolina.
O
voto não é importante para nós sociedade, como é importante para os políticos.
Mais importante que o voto por si, é a nossa consciência política, mas uma consciência
que seja colocada em prática, na luta por direitos, e pela melhoria real das
nossas vidas. Fica o recado para os cidadãos de ODB, principalmente aos jovens,
que se haveremos de começar, comecemos por isto. Nós não estamos a serviço de
um governo, o governo que deve está a nosso serviço.
São
essas minhas impressões.
Blog - De que
forma uma iniciativa como a sua pode ajudar a solucionar este tipo de problema,
sobretudo em uma cidade que possui pouco mais de cinco mil habitantes como ODB?
Renato
Galdino - Viso
sensibilizar os jovens, os professores, os agentes públicos, as igrejas, os
blogueiros, as ongs etc., a sociedade em geral, que não se limita ao município,
ou a região, mas de todo Rio Grande do Norte, Brasil, e Mundo. A internet é
este veículo para informação, que pode despertar a ação real pela união em
torno de um objetivo, estou utilizando as redes para difundir essas ideias a
nível local.
O que está em
jogo é nosso patrimônio ambiental, os ecossistemas que só existem naquela região,
a biodiversidade dali que é própria; o que está em jogo são os recursos
naturais que nos provém a vida, como a água.
Esse problema,
não é exclusividade de Olho D'Água do Borges. A caatinga vem sendo desvastada
de forma absurda, vivemos um processo de deseertificação acelerado do
semi-árido, as mudanças climáticas acentuam os efeitos drásticos da seca; o que
está em jogo é a segurança alimentar dos seus habitantes, a saúde, a
preservação do bem comum que é a água, que enrriga, e mata a sede - são coisas
que atingem diretamente a vida de cada um de nós, sejamos olhodaguenses,
potiguares, brasileiros, cidadãos do mundo.
Faço o que as
minhas possibilidades como estudante e ser humano me dão oportunidade de fazer,
passo a informação adiante, e espero que a população de ODB, vale frisar,
também os gestores públicos possam estar sensíveis ao que eu trouxe a tona. Dar
continuidade com autonomia, ao que o Trilhas Potiguares trouxe de novo, e de
reflexão, já nas quatro edições do projeto no município, é uma alternativa. As
mudanças não acontecem em um minuto, temos que lutar por elas, esse é meu
reivindico.
Com pouco mais
de cinco mil habitantes ou com um milhão, é possível!
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