A seca implacável devasta o Nordeste, e em particular o
Rio Grande do Norte, matando rebanhos de fome, sede e infernizando a vida do sertanejo que
sobrevive sem assistência dos governos estadual e federal e municipal.
Infelizmente, a região caminha em direção à desertificação num curto espaço de
tempo. Se confirmados estudos técnicos do professor Luiz Carlos Baldicero
Molion, anunciando mais oito anos de chuvas abaixo da média, certamente
ocorrerá um desastre de consequências trágicas e imprevisíveis.
A falta de vontade da nossa classe política em querer
resolver os problemas da seca é tão imensa que ao invés de criar mecanismos
para diminuir os danos causados pela mesma, como por exemplo: perfuração de
poços mais profundos em lugares onde não existem reservatórios de água, criação
de barragens subterrânea e outras mais, que são obras baratas e que resolveriam
em parte os problemas da seca, permanece apenas nos velhos e conhecidos
discursos com palavras e frases que emocionam e que na verdade não levam a
lugar nenhum.
Juntando a essas obras, uma política de ajuda financeira ao
sertanejo, só que antecedida à seca e não após a mesma que é o que acontece
atualmente. Nós brasileiros temos o potencial para fazer isso e muito mais.
Cito exemplos de países do oriente médio, que no meio do deserto ergueu uma
floresta artificial irrigada com água captada a quilômetros de distancia ou na
região que fica entre Mossoró e Tibau aqui no Rio Grande do Norte, onde existem
grandes plantações de melão irrigadas com água tirada de poços. Por que não
investir da mesma maneira no nordeste brasileiro? Sendo que o investimento
seria para distribuir água para pessoas.
Creio que a falta de meios e
dinheiro não são mais os nossos problemas. Infelizmente os nossos governos se
aproveitam de momentos difíceis como esses de seca e se autopromovem com
promessas baratas, projetos mesquinhos, que resolvem o problema em curto prazo
e ficando para os que sofrem com a seca a dependência a eles. Creio que o
problema da seca é natural, mas a solução dele poderia vir através das ações
políticas.
Mas a classe política do Rio Grande do Norte estão preocupados somente com as próximas eleições de 2014, ignorando os graves problemas como a seca, insegurança pública, criminalidade assustadora, saúde e educação caótica, consolidação do crime organizado, corrupção desenfreada, entre outros. É justamente nesse aspecto que paira sobre a classe política a sábia definição de Winston Churchill sobre a diferença entre o “estadista e o político: o primeiro pensa nas próximas gerações e o segundo nas próximas eleições”.
A campanha eleitoral começou com quase dois anos de
antecedência, como sempre acontece neste país, atropelando o calendário
previsto pela Justiça Eleitoral, que não esboça reação, até porque os comícios
são camuflados em inaugurações de obras e encontros políticos, burlando a
legislação. A presidente Dilma Rousseff já tem vasta agenda neste sentido pelo
país afora, a governadora Rosalba, o presidente da câmara, deputado Henrique
Alves e outros mais, já estão turbinando
suas permanências por mais quatro anos no Poder, com todos os direitos e
vantagens que a reeleição assegura aos postulantes no exercício do cargo,
enquanto isso, o homem do campo e seu rebanho vão sendo consumidos pela seca e
a indiferença da classe politica.
Até nos anúncios dos pacotes de bondades dos governos,
com nítidos fins eleitoreiros, o Nordeste é descartado, apesar de enfrentar uma
das piores secas dos últimos 40 anos, que já dizimou quase a metade do rebanho
bovino, caprino e ouvino, sem contar as perspectivas sombrias para o
futuro. Não existe plano de ação objetiva nem programas para retirar os
nordestinos da situação calamitosa em que se encontram. Falta financiamento nos
bancos oficiais para adquirir rações e salvar o que restou do gado, além de
outras melhorias no campo.
Os políticos da região nem sequer fazem barulho no
Congresso Nacional. Lavam as mãos diante da calamidade palpável, como fez
Pilatos diante de Jesus de Nazaré. Contemplam a tragédia de braços cruzados,
pensando apenas nos interesses pessoais. Enquanto isso, os modestos
agricultores enfrentam as agruras da seca confiantes somente na fé da
providência divina. São relegados e condenados a viverem na miséria à
semelhança dos seus ancestrais. Há muito perderam a confiança nos políticos que somente
aparecem em tempo de eleições, pronunciando palavras ocas e vazias. Ninguém se
comove com o calvário daqueles, embora a seca não seja nenhuma novidade, mas os
governantes fingem tratar-se de algo inusitado, até para justificar a incúria
deslavada de atitudes mesquinhas.
A saga já perdura há séculos, porém, até hoje, não existe
planejamento eficaz na antecipação ao fenômeno corriqueiro repetido
frequentemente, acabando as esperanças de uma gente marcada pelo sofrimento e o
descaso de governos e políticos incapazes e coniventes com a desgraça alheia. O
grito rouco do campo não é ouvido pelos poderosos aboletados em palácios
suntuosos, distantes das lamúrias do povo humilde do Nordeste.
Mas no próximo ano eles estarão ai correndo atrás daqueles
que foram desprezados e abandonados, e ai deveria ser a hora deles receberem o
troco com a mesma moeda: “Desprezo e indiferença”.
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