Ao tratar da sutil distinção entre um verdadeiro amigo e
um mero oportunista, Plutarco (69-120 d.C.) nos leva a refletir sobre nossas
próprias falhas, revelando o quão somos responsáveis por nos cercarmos de
bajuladores, expondo-nos a riscos desnecessários.
O sábio alerta que espreitar as ardilosas manobras dos
bajuladores para apanhá-los em flagrante e impedi-los de nos prejudicar não é
uma questão irrisória, pois com o passar do tempo, esses invejosos caluniadores
envenenam e destroem reputação, amores, lares, sonhos, carreiras e outras
amizades.
Enquanto o amigo quer bem ao amigo, o bajulador quer bem
somente a si mesmo e, seduzidos por glória e poder, ocorrendo alguma
indesejável alteração na roda da fortuna do bajulado, abandona-o rapidamente.
O bajulador, "entregando-se aos bons ofícios,
se dedica sem cessar a ostentar zelo, diligência e prontidão". Astuto
camaleão, assim ele procede.
Uma amizade é fundamentada na semelhança de costumes, na
identidade dos estilos de vida: "a similitude dos gestos e das
aversões”. O bajulador sabe disso e se modela a fim de imitar àqueles de
quem buscam ganhar confiança.
O verdadeiro bajulador, diz Plutarco, imiscui-se em
nossas atividades, partilha nossos segredos. Em função de sua postura amigável,
conjugada com certa gravidade assumida diante de tudo o que é nosso, entregamos
de bandeja a oportunidade de se instalar em nosso ego sedento de afeto.
A psique do bajulador não tem consistência, pois ele
confunde todos os valores morais: "ele
leva uma vida apoiada na exigência de um outro e não na sua própria
exigência". Com um, jura ser
pacato; com outro, diz que adora sair. Isso o leva a, ora fazer-se de íntegro
com uns; ora a compactuar injustiças com outros.
Assim como o ouro falso muito se assemelha ao verdadeiro,
o bajulador imita a benevolência e a boa vontade do amigo, tenta parecer sempre
simpático e divertido, além de evitar se opor às opiniões do bajulado.
Amigo sincero nos elogia com prazer, mas nos censura a
contragosto. Considerando que, nem o prazer do desfrute do que há em comum,
tampouco os elogios são critérios distintivos, é realmente difícil distinguir
entre o amigo e o bajulador que exerce seu ofício com mais habilidade e
talento, tomando parte em nossas emoções e adotando hábitos semelhantes aos da
amizade.
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