Faltou maior representatividade, quantitativo de pessoas
e visibilidade ao evento de filiação ao PMDB, da ex-prefeita mossoroense Fafá
Rosado, nesta segunda-feira (23), na Câmara de Mossoró. Ficou aquém de uma
mulher que deixou a Prefeitura de Mossoró há nove meses.
Mesmo após dois mandatos como prefeita (oito anos
consecutivos no poder), Fafá não consegui atestar força de arregimentação e
potencial político-eleitoral como pretensa aspirante à Câmara Federal, em
dobradinha com o marido e atual deputado estadual (dois mandatos), Leonardo
Nogueira (DEM).
- Eu estou aqui por consideração à minha prima (Fafá); ela me
convidou e eu vim prestigiá-la – comentou o empresário e integrante do PR,
Marcelo Rosado, justificando sua presença, rara liderança empresarial no local.
Pouquíssimos ex-secretários de Fafá apareceram para apoio à
sua nova filiação. Lideranças comunitárias podiam ser contadas nos dedos. Maior
parte do espaço normalmente ocupado por populares, do lado direito da mesa
diretora da Câmara Municipal, ficou com muitos assentos vagos.
No centro do salão, local do plenário, familiares da
ex-prefeita e correligionários locais e regionais dos líderes peemedebista
Garibaldi Filho e Henrique Alves se aboletaram na maioria das cadeiras alugadas
a um buffet, arrumadas por servidores da Câmara Municipal e Prefeitura de
Mossoró.
A ornamentação com balões de ar em cor verde, teve o
acréscimo de uma solitária mensagem do vereador Alex Moacir (PMDB), casado com
uma sobrinha de Fafá. Ele compôs seu secretariado.
Na parte externa da sede do Legislativo, pouco ou quase nada
anunciava que um acontecimento político de “peso” estava ocorrendo no interior
do imóvel. Passantes e ocupantes de veículos à Rua Idalino Oliveira (endereço
da Câmara), pareciam nem desconfiar que àquela tarde e início de noite a
ex-prefeita Fafá Rosado mudava de partido.
“Mamãe” em dificuldade
As ruidosas claques do período em que ela estava na
prefeitura foram substituídas por vozes pontuais, que estrilavam saudações e
provocavam risos. “Valeu, ‘mamãe’”, gritava uma aliada da ex-prefeita.
Rosalbistas de carteirinha, gente acostumada ao ativismo
político no governismo, parece que evitaram o evento. Tinham suas razões.
A presença da prefeita e sucessora de Fafá na prefeitura,
Cláudia Regina, motivou mais a plateia. Mas por pouco tempo.
Um discurso desconsertante do senador e ministro Garibaldi
Filho (veja AQUI)
empalideceu a face rosada de Fafá.
Ele colocou um ponto no “í”. Deixou muita gente emudecida
ou resmungando de forma quase inaudível:
- Mossoró agora precisa saber que o PMDB é oposição, queiram
ou não queiram, gostem ou não gostem!
O senador largou seu estilo moderado e plácido, para
desautorizar a ex-prefeita e seu esquema à dubiedade. Um pouco antes, Fafá e o
marido – deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM) – tentaram vender a ideia de
que vão para oposição, mas sem se desligarem dos laços com o Governo Rosalba
Ciarlini (DEM).
Garibaldi avisou que não iria aceitar “a dubiedade” e o
“contorcionismo político”.
Disse, com mão cerrada e em outros momentos com o dedo
indicador em riste, que a postura do PMDB não cabia dois discursos. Elevou a
voz e foi aplaudido, enquanto outra parte da plateia se entreolhava, emudecia
ou sussurrava palavras incompreensíveis.
Os desdobramentos do desembarque de Fafá, familiares e
correligionários no PMDB são imprevisíveis. Entretanto é fácil se identificar
dificuldades, já postas em seu nascedouro.
Chega sem ter o controle partidário. Os Alves não abrem mão
do comando do PMDB em Mossoró, o que tinham perdido por cerca de 20 anos,
quando o esquema da deputada federal Sandra Rosado (PSB) assumiu seu monopólio.
Além disso, Fafá precisará – caso seja candidata a deputado
federal – ir para as ruas do seu principal colégio eleitoral, sendo oposição ou
aliada de Rosalba. A governadora é individualmente a maior liderança popular do
município.
O agravante: a prefeita que a substituiu no Palácio da
Resistência, Cláudia Regina (DEM), não a tem como prioridade de apoio à Câmara
Federal. Seu nome preferencial é o do deputado federal Felipe Maia (DEM), filho
do senador e seu “compadre” José Agripino (DEM).
Antipatias
Na mesma faixa de votos, a ex-prefeita ainda tende a
enfrentar Betinho Rosado (DEM), deputado federal no quinto mandato, cunhado de
Rosalba. Além disso, irmão de Carlos Augusto Rosado (DEM) – que colocou Fafá na
conta de suas antipatias (veja AQUI),
com a debandada dela para o PMDB.
Nas últimas eleições à Câmara Federal, Sandra Rosado saiu de uma
votação de 19.859 (17,59%) em 2006 para 25.072 (21,9%) em 2010 – em
Mossoró. Simplificando: ela aumentou seu capital de votos em 5.213 votos.
Já Betinho Rosado saltou de 28.709 votos (25,43%) para 32.245 (28,17%). Ou
seja, amplificou seu cabedal de votos em 3.536 eleitores. Foi o campeão de
votos no município.
Fafá tem como encarar ambos? Pouco provável em meio a essa
barafunda no relacionamento político com Rosalba e com a camisa do PMDB, além
de não ter a ”cobertura” plena da “viúva”, ou seja, Nossa Senhora da Municipalidade,
padroeira dos candidatos governistas.
Outra saída para Fafá Rosado seria o sonho de ser candidata a
vice-governador, numa chapa de aliança do PMDB. Pouco provável. Mas não
impossível.
O PMDB marcha para ter candidatura própria ou constituir um
nome para tal projeto, numa coalizão oposicionista bem ampla. Numa conjectura
dessa ordem, é quase impossível que a ex-prefeita tenha algum cacife e peso
para ser vice.
A última cartada é substituir o marido Leonardo Nogueira,
um candidato sempre “pesado”, por sua leveza e carisma pessoal, na disputa por
uma vaga à Assembleia Legislativa.
Leonardo teve 45.975 votos em sua primeira eleição em
2006, sendo que 25.166 só em
Mossoró. Foi o quinto mais votado no RN entre
os 24 eleitos, tendo a mulher na Prefeitura de Mossoró.
Em 2010, ele foi o 13° mais votado em todo o estado, com
41.133 votos (2.39%). Já em Mossoró, seu desempenho sofreu queda acentuada, com
20.049 votos (16,51%). Perdeu 5.117 votos em relação à eleição anterior (2006),
mesmo o eleitorado tendo crescido: foram 158.920 de pessoas aptas ao voto
em 2006, contra 149.398 em 2010.
Os números são irrefutáveis, revelando como um terceiro
mandato é dificílimo para Leonardo: Mossoró ganhou mais 9.522 eleitores e ele
caiu 5.117 votos.
Com um detalhe: Fafá era, de novo, prefeita. Tinha chave do
cofre e incensos milagrosos à sua reeleição.
O caminho que Fafá tem pela frente é sinuoso e movediço, além
de cego. Pode ser candidata a deputado federal, vice ou mesmo estadual. Mas se
não disputar nada, ninguém deve estranhar.
É a segunda vez que a ex-prefeita e família deixam para
trás padrinhos também Rosado, para voo em prol de seus interesses mais
particulares na política.
Na primeira aposta, no início dos anos 2000, deu certo. Saiu
da liderança de Sandra Rosado, sua prima, e conseguiu se eleger duas vezes à
prefeitura, – além de viabilizar o marido como deputado estadual.
Agora, deixa na poeira o primo Carlos Augusto e Rosalba, com outros
planos.
Se mantiver a escrita, ao final tudo dará certo.
Os dados estão na mesa. O jogo começou a ser jogado
novamente.
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