Antes de aceitar o acordo de delação premiada, o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa antecipou o efeito devastador de
suas denúncias: “Se eu falar, não vai ter eleição”. Temendo sair como o único
prejudicado após as revelações de propina e corrupção dentro da estatal, o
executivo decidiu relatar à Polícia Federal como e com quem agiu – e, conforme
VEJA revelou na edição desta semana, trouxe uma lista de três governadores,
seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais que embolsaram
ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal. As
denúncias atingem, direta ou indiretamente, ao menos quatro candidaturas a
governos estaduais. No Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Alagoas e Maranhão
a corrida eleitoral deve ganhar novos contornos após ter nomes de candidatos ou
herdeiros políticos citados por Costa.
O ex-diretor de Abastecimento
agia em parceira com o doleiro Alberto Yousseff, considerado pivô do
megaesquema de lavagem de dinheiro. Os dois comandaram a ação, descoberta na
operação Lava Jato da Polícia Federal, com movimentação superior a 10 bilhões de
reais, em que foram desviadas verbas da estatal para o bolso de políticos e
partidos. O caso veio à tona em março deste ano e, com detalhes ainda mais
contundentes revelados a um mês das eleições, deve incendiar ainda mais a
campanha eleitoral.
Um dos envolvidos é o mais
antigo deputado da Câmara dos Deputados e atual presidente da Casa, Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN). Para a sua primeira disputa ao governo potiguar, ele
montou uma ampla base de apoio e conseguiu assumir a liderança nas pesquisas:
tem, atualmente, 40% de intenções de voto, de acordo com o Ibope. O candidato
se apressa para evitar que as denúncias respinguem sobre seu projeto eleitoral.
“Nunca pedi nem recebi quaisquer recursos do Paulo Roberto Costa. As
insinuações publicadas, de forma genérica e sem apresentar evidências sobre o
meu nome, não podem ser tomadas como denúncia formal nem fundamentada”, disse,
em nota, neste sábado. Alves afirmou ainda que não há provas contra ele e
apontou para uma possível manipulação do episódio na campanha eleitoral.
O presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), também compõe a extensa lista de nomes relatados pelo
ex-diretor da Petrobras. Ele ainda está na metade do mandato e não é candidato
no pleito deste ano — mas tem como projeto pessoal a eleição de seu herdeiro, o
deputado Renan Filho, para o governo de Alagoas. Com o nome de um dos
principais caciques alagoanos, Renanzinho, como é conhecido, lidera as
pesquisas eleitorais e, se nada mudar, pode ser eleito logo em primeiro turno.
Em meio às novas denúncias que envolvem o pai, ele tenta se desvincular do caso
de corrupção. “Eu sou parlamentar e não posso falar sobre outros parlamentares.
Eu não fui citado. Mudaria algo se eu tivesse sido. O candidato sou eu”, disse
ao site de VEJA, fugindo de responder outras perguntas.
Outro herdeiro político que
pode sofrer consequências pelo envolvimento do pai é o senador Lobão Filho
(PMDB-MA), candidato ao governo do Maranhão. O ministro de Minas e Energia
Edison Lobão agora será investigado pela PF com a delação de Costa, assim como
a ex-governadora Roseana Sarney, também lembrada em depoimento. Os dois são os
principais fiadores da campanha do senador peemedebista, o que dá ainda maior
força à oposição em um Estado devastado após décadas da gestão Sarney. “Chega.
Basta. Hora de tirar o Maranhão das páginas policiais. Essa gente enrolada com
a Polícia Federal não pode continuar no governo”, disse, pelo Twitter, o
candidato do PCdoB Flavio Dino. “Basta de escândalos com doleiros, lagostas e
propinas”, continuou, evidenciando que o caso será incorporado à sua artilharia
contra Lobão Filho.
No Rio de Janeiro, o candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB) tem pela
frente mais uma herança negativa de seu antecessor. O governo de Sérgio Cabral
foi encerrado com altíssima taxa de rejeição e, agora envolvido nas denúncias
da Petrobras, deve dar ainda mais margem para os adversários tentarem
desqualificar a gestão peemedebista. “O que foi revelado ainda é muito pouco
perto do que o Cabral vai ter de explicar nos próximos dias. Não há novidade de
ele estar envolvido em casos de corrupção”, disse ao site de VEJA o também
candidato Anthony Garotinho (PR), um dos mais duros oposicionistas a Cabral e
Pezão. Na tentativa de abafar o caso, Pezão pediu calma para que as denúncias
sejam apuradas e afirmou que “nunca viu Cabral pedindo um cargo em ministério”.
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