Num intervalo de
menos de 24 horas, Eduardo Cunha tornou-se um personagem desconexo. Revelou-se
capaz de tudo, menos de formular uma defesa plausível para a denúncia de que
embolsou uma petropropina de US$ 5 milhões. Em pronunciamento levado ao ar na noite desta sexta-feira,
Cunha autovangloriou-se da aprovação de projetos ainda pendentes de apreciação
no Senado e fez pose de político responsável:
“Hoje o Brasil
vive uma crise. Crise com a qual todos sofrem e que o governo busca enfrentar
com medidas de ajuste. A Câmara tem avaliado essas medidas com critério. Atenta
à governabilidade do país, que é nosso dever assegurar.”
Horas antes, o
Eduardo Cunha da Lava Jato cuidara de desautorizar o Eduardo Cunha da
televisão. Levado à vitrine de ponta-cabeça pelo delator Júlio Camargo, o
primeiro Cunha aniquilara o segundo, cujo pronunciamento fora gravado antes que
a propina milionária viesse à luz.
No momento, a
Câmara dos Deputados é presidida por uma caricatura que dispõe de todas as
prerrogativas à disposição do terceiro personagem na linha de sucessão da
República. A primeira providência adotada pela caricatura, figura ingovernável,
foi abrir as gavetas das CPIs e dos pedidos de impeachment.
E quanto à
propina? Bem, isso é coisa do complô que uniu o Planalto e o procurador-geral
Rodrigo Janot numa trama sórdida para transformar um deputado exemplar num
corrupto.
O que Eduardo
Cunha afirma, com outras palavras, é o seguinte: enquanto utilizava seu poder
de fogo para envolver o presidente da Câmara na Lava Jato, o Planalto esqueceu
de livrar das investigações a contabilidade da campanha de Dilma, ministros
como Aloizio Mercadante e Edinho Silva, o tesoureiro petista João Vaccari e até
o ex-ministro José Dirceu.
Eduardo Cunha
parece supor que a sociedade brasileira é feita de cínicos e bobos. Para seu
azar, o panelaço que soou durante seu pronunciamento deixou claro
que há um outro tipo de cidadão na praça —um brasileiro que não suporta
empulhações.
Por Josias de Souza
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