Na imensa confusão que reina em Brasília com o mandato de
apreensão em busca nas casas de Eduardo Cunha, há alguns fatos inegáveis.
O primeiro é
que o dia foi péssimo, inegavelmente, para Eduardo Cunha. Numa única manhã, ele
acordou com a PF em sua residência oficial e viu, poucas horas depois, ser
aprovada na sua Câmara a continuidade do processo que deverá cassá-lo.
Quer mais? Isto posto,
vem o segundo fato. A esta altura, quanto pior a situação de Cunha, melhor a de
Dilma.
Cunha é o
motor, é a alma, é a cara do impeachment. Por mais que Aécio, FHC e os demais tentem agora se livrar da imagem de sócios de Cunha, a sinistra aliança
já ficou suficientemente exposta aos olhos dos brasileiros.
Coloque no
Google Imagens as palavras Eduardo Cunha e Aécio e você verá múltiplas fotos
dos dois companheiros, com o sorriso maligno de conspiradores.
Enfraquecido
Cunha, murcham junto seus parceiros no crime de lesa democracia. É
absolutamente impossível, agora, dissociar o processo de impeachment da figura
odiosa de Eduardo Cunha.
Basta dizer
isto: sem ele não teria sido aceito um pedido de impeachment tão brutalmente
fajuto. Temos então o
seguinte: a campanha pela deposição de Dilma sofreu uma enorme derrota com a
Operação Catilinárias.
Enfileirados
os fatos, vamos agora às questões que emergem.
A mais
importante é esta: por que se demorou tanto para um mandato de apreensão e busca nos
domínios de Cunha?
Entre as
provas acachapantes enviadas às autoridades brasileiras pelos suíços e a
operação desta manhã transcorreu uma eternidade.
Livre, ele
teve tempo suficiente para arremessar o país a uma crise política com terríveis
consequências para a economia. Pessoas perderam o emprego, empresas quebraram ou postergaram investimentos – tudo por conta da mão satânica de um gangster
político sem nenhum limite.
Quem pagará
por isso?
Num mundo
menos imperfeito, a conta seria entregue a quem sustentou Cunha em sua louca
cavalgada, a neo-UDN, o PSDB.
Cunha não se
elegeria tão facilmente presidente da Câmara, com o propósito de infernizar
Dilma e auferir lucros pessoais, se o PSDB tivesse tido a decência de lutar para impedir que um sujeito como ele
chegasse ao terceiro posto mais importante da República.
Mas há tempos
o único objetivo dos tucanos na política se resume ao clássico “quanto pior,
melhor”. Não há vestígios de grandeza nas ações do PSDB.
O atraso monumental
do ataque a Eduardo Cunha deu a ele tempo infinito para se livrar, com folga,
de qualquer coisa comprometedora.
Um amigo me
perguntou: o que a PF encontrou na casa dele? Minha resposta foi instantânea:
sua mulher.
Para alguns,
foi mais um indício de que ele não serve mais para as intenções golpistas da
plutocracia. Dias atrás, editoriais do Globo e da Folha – com o mesmo atraso
impressionante da Catilinárias – pediram a remoção de Cunha.
Ainda que isso
seja em parte verdade, não elimina o fato que a ação tem um efeito simbólico:
Eduardo Cunha é um morto vivo na política, um pária que conseguiu reunir o
ódio, a repulsa de pessoas de petistas e antipetistas.
Tirá-lo da
cena agora não fortalece os adeptos do golpe. Se este foi o objetivo, como
alguns pensam, é um ato meramente de desespero.
Por que é
tarde demais para desvincular a imagem de Cunha do golpe.
Cunha é o
golpe, em toda a sua sordidez.
Por Paulo Nogueira
0 comentários:
Postar um comentário