Os gritos de “Temer Presidente” da reunião do PMDB,
que conta já ter derrubado o Governo, são a expressão patética de quem entende
a política apenas como um jogo de apoios, intrigas, cargos e golpes de
esperteza.
Num país onde
nenhuma força política é capaz de se sustentar sozinha no Governo, é
inacreditável que a cúpula do PMDB – e a cúpula do PMDB hoje são Temer, Renan e
Cunha – ache que possa se manter no poder apenas com acertos conchavados e
entrega de nacos do Governo ao PSDB e ao baixo clero da Câmara.
Li no Facebook
– não cito o autor por não saber se o nome conhecido corresponde à realidade –
que ” Temer, e o PMDB, se preparam para praticar a segunda coisa que melhor
sabem fazer: trair. A primeira é se aliar a quem quer que seja. A grande
questão é que por mais que a traição agrade a alguns setores, ninguém perdoa os
traidores. Michel Temer entrará particularmente para a história como um Judas
em busca de suas trinta moedas. O seu destino, tal qual Judas, será a corda ao
pescoço”.
No século 21,
numa sociedade de massas e na sexta, sétima ou oitava economia do mundo
(depende das circunstâncias qual delas) como é o Brasil, Governo algum é capaz
de se sustentar sem legitimidade.
Vejam que
mesmo com a eleição de 2014, bastou a não aceitação do resultado e a adoção do
programa econômico do adversário para que a legitimidade de Dilma, ainda que
com votos, se corroesse.
Que dirá a de
quem não teve e não teria voto algum.
Há uma deficiência
de leitura política da elite brasileira própria e coerente com o seu atraso.
Somos uma
sociedade de massas, muito, mas muito mais do que éramos há meio século, quando
um golpe militar e político teve poder para implantar a censura e o medo.
O que vão
fazer com a internet? Desplugá-la?
Abolir o Facebook, encarcerar blogueiros, mandá-los ao exílio? Só rindo
sarcasticamente disso.
‘Temer Presidente”
pode ser gritado num salão com um cento de políticos, mas não pode ser gritado
em esquina alguma do país.
A história do
golpe de 2016 passa-se, paradoxalmente, antes em seu futuro que em seu
presente.
Neste, dado o
estado vergonhoso das instituições, poderá até prevalecer, mas, no “day
after“, não terá como se impor.
Seremos um
país sem governo legítimo, sequer legítimo na alegação de que teve votos para
se constituir.
Nem mesmo nos
atos da direita na Avenida Paulista terá aceitação, se não lhes der sangue
humano para beber.
Com Temer ou
sem ele, ou caminho de um governo nascido do golpe é o do autoritarismo.
E o
autoritarismo é o passado, do qual o poeta, este vidente, já cantou:
” é uma roupa que não nos serve mais”.
Fonte: Tijolaço
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