Engana-se quem acha que o vice Michel Temer terá paz para
substituir a presidente Dilma Rousseff.
O vice-presidente Michel Temer
(PMDB-SP) sempre conseguiu contornar escândalos que citavam seu nome, mas
deverá enfrentar o teste da Lava Jato. Dois delatores que fizeram acordo com os
procuradores da operação citam o nome de Temer como padrinho de diretores que
operavam esquemas de propina na Petrobras.
Os delatores são o senador
Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e o empresário Julio Camargo, que
intermediou negócios bilionários na estatal econfessou ter pago propina a
integrantes do PMDB, entre os quais o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Camargo afirma ter ouvido que Temer era um dos beneficiados pelo suborno, o que
o vice-presidente nega.
A Lava Jato também encontrou uma mensagem no celular de um dos sócios da OAS,
Léo Pinheiro, que cita um pagamento de R$ 5 milhões ao vice-presidente, segundo
denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra Eduardo Cunha.
O procurador-geral, Rodrigo
Janot, escreveu na acusação ao Supremo que “Eduardo Cunha cobrou Léo Pinheiro
por ter pago, de uma vez, para Michel Temer a quantia de R$ 5 milhões, tendo adiado
os compromissos com a ‘turma'”. Temer diz que os R$ 5 milhões foram doação
legal.
Uma das acusações mais contundentes contra Temer partiu de Delcídio. O senador
responsabiliza o vice pela indicação de um diretor da BR Distribuidora, que
ocupou o cargo entre 1997 e 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso, que
teria feito negócios ilícitos com etanol.
Tal executivo, João Augusto Henriques, está preso em Curitiba sob acusação de
intermediar propina em contratos da Petrobras.
Delcídio classifica o negócio com etanol como “um dos maiores escândalos
envolvendo a BR Distribuidora”.
Temer também teria indicado
Jorge Zelada em 2008 para a diretoria internacional da Petrobras, segundo
Delcídio. Zelada foi condenado a 12 anos de prisão sob acusação de ter desviado
US$ 31 milhões da Petrobras para o PMDB e para si próprio. Numa conta de
Zelada, as autoridades de Mônaco encontraram 11,6 milhões de euros, o
equivalente a R$ 47,5 milhões.
A Operação Lava Jato também apreendeu planilhas na Camargo Corrêa em 2014 que
citam dois pagamentos de US$ 40 mil a Temer, relacionados a obras em estradas.
Outra investigação da Polícia
Federal sobre a Camargo Corrêa, a Operação Castelo de Areia, encontrou
documentos que citam 21 vezes o nome de Temer e a cifra de US$ 345 mil. A
planilha vai de 1996 a 1998, quando ele era deputado federal. A operação foi
anulada pelo Superior Tribunal de Justiça sob o argumento de que ela foi
iniciada a partir apenas de denúncia anônima, o que seria ilegal.
Ele também já foi acusado duas vezes de desvios de recursos do porto de Santos,
apontada pelos próprios peemedebistas como sua área de influência, mas as
investigações foram arquivadas.
OUTRO
LADO
O vice Michel Temer negou
envolvimento em qualquer dos temas investigados na Lava Jato ou nos outros
casos em que foi mencionado.
Sobre o repasse citado em mensagem de Léo Pinheiro, a assessoria de Temer
informou que “a doação eleitoral mencionada está declarada” na prestação de
contas de Dilma Rousseff, na conta Michel Temer 2014, e tal valor não está
ligado a ato ilícito.
Temer afirmou que as indicações de João Augusto Henriques e Jorge Zelada foram
do PMDB de Minas Gerais e que jamais atuou em compra ilícita de etanol.
Em relação às declarações de Fernando Soares, a assessoria afirmou que o
próprio Soares mudou sua versão.
Quanto à planilha da década de 90, Temer disse que não era parlamentar no
período e não tinha com apresentar emendas sobre obras.
Na Castelo de Areia e no caso de Santos não foram encontradas provas contra o
vice, segundo a assessoria.
Da Folha:
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