A vida política
do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está nas mãos da colega Tia Eron (PRB-BA).
Evangélica como Cunha, a parlamentar baiana foi colocada no Conselho de Ética,
em abril, no lugar do antigo relator do processo, Fausto Pinato (PP-SP). O
deputado deixou o posto amedrontado e alegando que foi ameaçado por ter
admitido a abertura de processo contra Cunha, sem dar detalhes sobre tal
ameaça.
Pinato ocupava a
vaga do PRB no conselho. Mas, quando mudou de partido, a liderança da legenda
nomeou Eron para a vaga. A deputada surgiu como uma das táticas do presidente
afastado da Câmara para ter maioria no colegiado e, assim, livrar-se do pedido
de cassação que será votado nesta terça-feira (7).
No momento, há
nove votos declarados contra Cunha e dez a favor. Em caso de mais um voto de
Tia Eron contra o peemedebista, o jogo fica empatado, cabendo ao presidente do
Conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), desempatar a disputa. Caso contrário,
Cunha sai vitorioso dessa jornada.
Tia Eron, nome
eleitoral Eronildes Vasconcelos Carvalho, vota sempre com seu partido, desde
que o pastor concorde. E o pastor, neste caso, é o ministro da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, líder nacional da igreja de Eron.
Além disso, Pereira é presidente da legenda que abriga a parlamentar e pode
ajudar ou atrapalhar as pretensões de sua reeleição em 2018.
“Tia Eron
precisa de um conforto para decidir como vai votar”, disse um deputado baiano
que a conhece bem. Mas não explicou o que significa a expressão “conforto”. Se
for cassado, Cunha ficará oito anos inelegível. E, réu na Operação Lava
Jato, responderá sem direito a foro
privilegiado ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações em
primeira instância.
“Moralidade”
Se a deputada
votar a favor do relatório de Marcos Rogério (DEM-RO), o Conselho de Ética
pedirá a cassação de Cunha por ter mentido à CPI da Petrobrás sobre suas contas
no exterior. Se votar contra, Cunha será salvo e aumentará as chances de manter
o mandato. Nessa hipótese, o presidente afastado só correrá risco de ser
cassado se o plenário da Casa reverter a decisão do colegiado.
Todos os demais
deputados já declararam votos, ou contra ou a favor de Cunha. Tia Eron disse
que dará um voto técnico, para “restabelecer a moralidade na Câmara”.
Se o voto da Tia
Eron for contra a cassação proposta pelo relator e optar por uma punição mais
leve, Cunha sai do Conselho de Ética vitorioso. Esse é o principal objetivo do
grupo pró-Cunha na Câmara para impedir sua cassação. “A estratégia é levar ao
plenário da Câmara uma proposta de suspensão do mandato de Cunha e deixar que o
Supremo Tribunal Federal resolva o resto”, disse o deputado Carlos Marum
(PMDB-MS), um dos principais defensores do peemedebista.
Operação Cunha
A tentativa de
salvar Cunha tem tramas sofisticadas. Primeiro, a Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) tentará mudar as regras do regimento interno da Casa, ainda nesta
terça-feira (7), ao analisar o parecer do deputado Arthur Lira (PSC-AL)
proibindo o plenário de alterar o parecer aprovado pelo conselho. A CCJ é
presidida por Osmar Serraglio (PMDB-PR), outro simpatizante de Cunha.
Mesmo afastado,
o poder de Cunha permanece intacto. Por sua influência, o deputado André Moura
(PSC-SE) foi indicado pelo Palácio do Planalto líder do governo Temer na
Câmara. Também foi Cunha quem indicou o presidente da Comissão Mista de
Orçamento, Arthur Lira, o mesmo deputado membro da CCJ que deu parecer
favorável à consulta feita pelo presidente interino da Casa, Waldir Maranhão
(PP-MA). também da bancada do deputado fluminense, sobre a votação de um
parecer alternativo. As duas votações desta terça-feira, na CCJ e no Conselho
de Ética, vão revelar a verdadeira força de Cunha na Câmara.
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