Relator do processo sobre as ilegalidades atribuídas à
campanha da chapa Dilma-Temer, Herman Benjamin iniciou às 15h16 a leitura do
pedaço do seu voto referente ao mérito da causa. O texto expõe algo que o
representante do Minitério Público, Nicolao Dino, chamou de metástase. Num
julgamento convencional, os ministros do TSE aguardariam o final da leitura
para proferir os seus votos. Deu-se, porém, o que todos suspeitavam. O jogo já
estava jogado. Horas antes, pela manhã, os debates sobre questões preliminares
esboçaram um placar de 4 a 3 a favor das teses da defesa, que salvarão o
mandato de Michel Temer e os direitos políticos de Dilma Rousseff.
Os julgamentos no TSE sempre foram muito parecidos com as
partidas de futebol. Mas o campo não é bem demarcado, a bola é quadrada, vale
impedimento, caneladas contam ponto a favor e os juízes não expulsam senão
jogadores pernas de pau. No processo sobre a chapa Dilma-Temer, o tribunal
tinha a oportunidade de modificar o velho hábito de conviver com a impostura.
Mas prevaleceu o conchavo. Depois de transformar a auditoria nas contas do
comitê vitorioso em 2014 num marco histórico, o TSE decidiu marcar um gol
contra. Jogou no lixo o grosso do resultado do trabalho. Já não se sabe nem
mesmo se o caixa dois deve ser penalizado.
Os transgressores consagraram um bordão: “Eu não sabia”.
Com a ajuda da Lava Jato, o TSE soube. Mas optou por fechar os olhos. Decidiu,
por exemplo, que tudo o que foi descoberto sobre os R$ 150 milhões em verbas
sujas que a Odebrecht empurrou para dentro das arcas eleitorais deve ser
ignorado. Além de se auto desmoralizar, os magistrados eleitorais decidiram
ofender a inteligência da plateia.
Diante de tudo o que a Lava Jato deixou evidente, alguns
ministros do TSE flertam com a cumplicidade. A omissão dos magistrados virou
inconsciência. Impossível a qualquer ser humano que não tenha chegado há cinco
minutos de Marte negar a promiscuidade. Ela não está apenas na campanha. E não
adianta pular as páginas do processo ou dos jornais. De repente, a promiscuidade
está na imagem refletida no espelho. Ela exige pelo menos um sentimento das
autoridades, nem que seja uma cara de nojo. Mas certos ministros preferem
imitar o avestruz.
Relator do voto que impediu em 2015 o arquivamento do
processo contra a chapa Dilma-Temer, Gilmar Mendes, hoje presidente do TSE,
dissera há dois anos que a investigação era indispensável para evitar que a
Justiça Eleitoral fizesse o papel de “São Jorge em prostíbulo”, fechando os
olhos para a promiscuidade ao redor. Aconteceu algo pior. O TSE virou uma
espécie de São Jorge que foi salvar a donzela e acabou casando com o dragão. O
relator Herman Benjamin ficou rouco de tanto citar trechos do voto daquele
Gilmar de dois anos atrás. Chamou o texto do colega, referendado pelo plenário
do TSE por 5 votos a 2, de ''bíblia''.
Fonte: Josias de Souza
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