Para o diretor de educação e de competências da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas
Schleicher, garantir educação de qualidade a todas as crianças do Brasil é o
caminho mais eficiente para reduzir a enorme desigualdade de renda e
oportunidades.
"Não podemos mais lidar com a desigualdade na nossa
sociedade somente redistribuindo o dinheiro. Precisamos mexer nas oportunidades",
afirmou o diretor do organismo, ao participar do Encontro Regional de Ministros
de Países Ibero-americanos. Participaram também do evento o ministro da
Educação, Mendonça Filho, e Maria Helena Guimarães de Castro, Secretária
Executiva do Ministério da Educação.
Schleicher destacou que, para crianças de
famílias mais pobres, na grande maioria das vezes, uma escola de qualidade é a
única chance de sair da pobreza ao longo da vida.
"Não há nenhum país no
mundo em que a educação superior influencie tanto o ganho ao longo da vida
quanto o Brasil. A resposta é garantir que todas as crianças tenham acesso a
educação de qualidade. Isso é a melhor garantia de uma sociedade mais
inclusiva", afirmou Schleicher. Segundo ele, quem mais precisa da escola
de qualidade são justamente os alunos mais pobres, menos expostos a estímulos
culturais, livros e conhecimento no ambiente familiar.
"Os mais pobres não
têm esse estímulo social ao aprendizado em casa, então a escola tem um papel
muito importante", afirmou, acrescentando que, em sistemas de educação
desiguais como o brasileiro, as crianças que já nasceram em famílias mais
privilegiadas têm acesso também aos melhores professores.
Reduzir a
desigualdade depende, na visão do diretor, de decisões de investimento e políticas
públicas que coloquem a educação e a igualdade como prioridades de governo.
"Algumas pessoas dizem que não é possível, que as crianças de países
pobres sempre terão educação pior. Pobreza não é destino", afirmou
Schleicher. Ele citou o caso do Vietnã, que tem gasto semelhante ao do Brasil
em educação, mas é mais bem-sucedido em avaliações como o Pisa, teste de
aprendizagem internacional elaborado e aplicado pela OCDE.
"Eu acho que se
você comparar o Vietnã e o Brasil eles têm muitas coisas em comuns, mas duas
diferenças importantes. O Vietnã é muito mais bem sucedido em atrair os melhores
professores para as escolas mais pobres. Eles tornam atraente do ponto de vista
intelectual e financeiro. O Brasil é exatamente o oposto. Quanto mais
qualificado o professor, maior a probabilidade de que ele vá acabar em uma
escola rica", afirmou, acrescentando que, além de aumentar salários dos
professores, é preciso pensar outros meios de tornar a carreira atraente.
"Se você olhar os cirurgiões: os melhores cirurgiões querem fazer as
cirurgias mais difíceis. Na educação no Brasil, não estamos prontos para isso
ainda. A maior parte dos professores escolhem as tarefas mais fáceis",
disse.
O diretor afirmou ainda que, hoje, os desafios da formação dos
professores vão além de conhecimento em conteúdo. Mais que investir na formação
inicial dos professores, o caminho, diz o especialista, é criar ambientes e
sistemas de treinamento permanente nas escolas, para que as melhores práticas
sejam compartilhadas com todo o corpo docente.
"Ensinar fórmulas e
equações é muito mais fácil que ensinar o aluno a pensar como um matemático. A
formação tem que ser muito mais sobre quem você é, suas habilidades. O
professor tem que ser um pouco assistente social, um pouco psicólogo. Há enormes
demandas para os professores", afirmou. "O melhor é criar um sistema
que compartilhe o conhecimento com outros professores", disse o diretor do
organismo.
Schleicher elogiou a iniciativa da Base Nacional Curricular Comum no
Brasil, que pela primeira vez procurou pensar um projeto do que a educação
representa para o país. "Deveria ter sido feito há muito mais tempo",
afirmou. "Sou um grande apoiador da iniciativa da base curricular comum, é
uma ótima oportunidade. Mas não vai ocorrer se não se investir na capacidade
das pessoas, dos professores para mudar a prática na sala de aula", diz.
O
diretor também afirmou que o gasto em educação no Brasil ainda é baixo e
ineficiente. E que colocar a educação como prioridade na agenda dos políticos
poderia ser a solução, inclusive, para os problemas econômicos do país.
"Você fala da recessão no Brasil, mas, na verdade, o que você tem na
educação é uma fonte permanente de recessão, e as pessoas não pensam
Fonte: Valor Econômico
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