Por François Silvestre
Conheci e admirei Osmundo Faria, pai do governador
Robinson Faria (PSD). Lembro-me dos dois em vários e variados
episódios. Osmundo quase foi governador, nomeado pelo regime militar.
Estava tudo certo.
Viajou a Brasília para encomendar o terno da posse. Seu
avalista era o general Dale Coutinho, ministro do Exército. Não havia
contestação.
Numa manhã daquela semana, após barbear-se, o general
sofre um infarto fulminante e morre. Com ele morreu a posse de Osmundo Faria.
O resto é outra história, e acho que o Estado saiu
perdendo, pois o nomeado foi Tarcísio Maia, paridor de mais uma oligarquia a
explorar o Rio Grande do Norte. E deu no que aí se mostra.
Também é outra história. Quatro décadas, se não erro,
após Osmundo ter perdido a chance de assumir o governo, seu filho Robinson
Faria torna-se governador num pleito historicamente atípico.
Derrotou o maior conjunto de apoio oligárquico e político
a um candidato ao governo, Henrique Alves, em quem votei.
Votei e declarei meu voto. Sou surpreendido por um apelo
do jornalista Alex Medeiros e do Publicitário Jenner Tinoco, amigos que não
serão inimigos nem que queiram, para montar o discurso de posse de Robinson
Faria.
Num restaurante onde nunca eu estivera, encontrei
Robinson. Ele disse: “Sei que você não votou em mim, mas preciso da sua
colaboração”. Respondi: “O que precisar para você e para o Estado, conte
comigo”.
Foi tudo muito improvisado. Pedi papel ao garçom, ele
trouxe uma caderneta de páginas minúsculas. Pedi folhas de ofício ou pautadas.
O dono ou gerente, não sei, providenciou as folhas. Tudo muito apressado.
Robinson foi explicando sua plataforma, e eu anotando.
Espécie de taquigrafia. Num certo momento, já quase no fim das suas
informações, eu falei: “Se você fizer dez por cento do que eu vou expor no
discurso, já é suficiente para eu me arrepender de não ter votado em você”.
Três dias depois, o discurso estava pronto. Vinte e
tantas laudas. Esse foi o discurso que ele pronunciou, na sua posse. Com o
acréscimo de uma lauda e meia que ele fez agradecendo o apoio de Mossoró e
exaltando a aliança com PT, que não foi da minha lavra.
Nem Mossoró nem o PT foram contemplados no meu texto.
Também é outra história.
Faltam quinze dias para o fim do governo cujo discurso de
posse eu escrevi.
Sou ficcionista. Ruim, mas sou. Já escrevi contos,
romances, novela policial, uma peça de teatro inédita, crônicas de invenção e
outras mogangas. Tudo na saudável invenção da literatura.
Porém, nunca menti tanto quanto no discurso de posse do
governador Robinson Faria.
Té mais.
François Silvestre é escritor
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