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O que a soltura de Lula significa para o mercado, a economia e a política

Sonho da esquerda e pesadelo da direita, a libertação de Luiz Inácio Lula da Silva se tornou uma realidade nesta sexta-feira (08).

Às 17h42, o ex-presidente deixou a Polícia Federal de Curitiba amparado pela confirmação feita por maioria do Supremo Tribunal Federal (STF), de que a prisão só pode ser feita após condenação em segunda instância. A dúvida agora é sobre as consequências de um dos fatos políticos mais relevantes dos últimos anos.

A reação do mercado foi de queda forte desde o início do dia, acentuada quando foi confirmada a soltura. O dólar teve valorização de 1,83%, e encerrou o dia a 4,168 reais, enquanto  o IBOVESPA fechou em baixa de 1,78%.

Analistas de mercado viram no movimento um reflexo de insegurança jurídica, devido à frequência de mudanças no entendimento do STF, e também de mais instabilidade política e institucional de forma geral.

Eles também notaram que a semana foi de frustração com o leilão do pré-sal (também relacionada com a questão regulatória), além de um cenário externo negativo devido às dificuldades na guerra comercial entre Estados Unidos e China.

“O investidor estrangeiro está vendo o Brasil com olhos não tão positivos, devido a problemas que já tivemos com contratos aqui, e também está migrando de países emergentes devido ao nível de instabilidade neste mês”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.

Reformas
A soltura de Lula vem coroar uma semana importante para o governo Bolsonaro. Um dia antes do leilão frustrante, na terça-feira, Paulo Guedes e sua equipe entregaram ao senado o aguardado pacote para suceder a aprovada reforma da Previdência, com três propostas de emenda à Constituição com mudanças profundas no pacto federativo e nas leis fiscais.

De forma geral, analistas não acreditam que a soltura de Lula tenha impacto relevante sobre o andamento destas reformas no Congresso. O motivo é que as propostas acabaram de ser apresentadas, o ano legislativo está perto do fim e dificilmente o ex-presidente Lula teria influência sobre votos do centrão.

“O impacto é de curto prazo, já que a atenção se volta para Lula. A polarização com Bolsonaro é mais pessoal do que de projeto político, e vai ficar claro que a capacidade de Lula mexer no jogo já está precificada”, diz Thiago Vidal, analista da consultoria Prospectiva.

Partidos como o Novo falam em obstruir a pauta até que seja aprovada uma PEC garantindo a prisão em segunda instância, mas a estratégia deve ter vida curta.

Além disso, a principal oposição aos projetos deve vir de lobbies corporativos que independem de Lula para sua articulação, e o Congresso tem se mostrado reformista e com alto grau de autonomia em relação ao governo Bolsonaro.

“O centro e a centro-direita têm interesse óbvio de fazer com que economia se recupere o mais rápido possível, e a consolidação fiscal é essencial para isso. Isso até ajuda no curto prazo a acelerar o processo de reformas, devido a esse novo risco potencial”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

O risco visto por investidores é que Lula volte a ter direitos políticos, já que até o final do mês, o STF deve julgar a suspeição do juiz Sérgio Moro no caso do tripléx. Caso confirmada, o caso voltaria para as primeiras alegações.

Mas para viabilizar uma candidatura em 2022, que já nasceria com forte potencial, Lula precisaria não apenas ganhar esse processo mas garantir nenhuma condenação nos próximos anos nos vários casos em que responde na justiça.

“O sonho do Lula era sair da prisão sendo considerado inocente, e não é o que acontece: continua condenado, o que é relevante do ponto de vista político. Mas uma vez em liberdade, ele é central para as estratégias do PT já que Lula é o agente político por excelência, e ainda bastante respeitado por algumas parcelas da sociedade”, diz Humberto Dantas, cientista político e pesquisador da FGV-SP.

No seu discurso após a saída, o ex-presidente reforçou que deve rodar o Brasil. Ele deve ser um cabo eleitoral importante nas eleições municipais de 2020, que estão a menos de um ano, em um cenário onde a esquerda estava fragilizada, fragmentada e focada na própria pauta do Lula Livre.

Fonte: Exame.

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