Na visão do senador Major Olimpio (PSL-SP), a aproximação
com o Centrão é frontalmente contrária a toda a narrativa de campanha de
Bolsonaro, o que tem enfurecido o eleitorado bolsonarista, segundo ele. Olimpio
considera que o movimento do presidente representa um tropeço no próprio
discurso.
“Eu não consigo entender o porquê disso, porque o
presidente ficou um ano e cinco meses tendo vitórias e derrotas importantes no
Congresso e nunca se abalou com isso. Eu vejo agora que perde muito o discurso,
perde muita a consistência”, disse o senador.
Para o vice-líder do PSL na Câmara, Junior Bozzella (SP),
o governo conseguiu fazer uma “aliança com o Centrão”, em referência ao nome da
sigla que Bolsonaro pretende criar, Aliança pelo Brasil. Na visão dele, o
alinhamento com os partidos do grupo é o ato derradeiro para o presidente.
“É um ato de desespero, uma flagrante demonstração da sua
incompetência, da sua incapacidade política e demonstra que as suas reservas
morais foram, todas elas, jogadas na lata do lixo”, disse Bozzella, para quem o
presidente não é capaz de sustentar as próprias posições.
“Ele institucionalizou, oficializou o 'toma lá, dá cá' no
Brasil de uma forma muito mais grave e obscena”, disse o deputado. Na opinião
de Bozzella, num momento de crise, o presidente tem usado grandes estatais e
autarquias como a Funasa para sustentar sua manutenção no poder. Para ele, foi
entregue “a chave do cofre” a figuras da velha política que o presidente criticava
no passado recente.
Deputado de primeiro mandato eleito na esteira do
bolsonarismo, Bozzella é próximo do presidente nacional da sigla pela qual
Bolsonaro se elegeu, o deputado federal Luciano Bivar.
Outro ex-aliado do presidente, o deputado Julian Lemos
(PSL-PB) disse que as conversas com o Centrão se devem à “inabilidade política,
petulância e arrogância” do governo. Segundo ele, o presidente perdeu sua
essência e se desmoralizou.
“Agora temos uma aliança pelo Brasil, e ela já tem seu
fundo eleitoral, Banco do Nordeste, Funasa entre outros, nesse momento o
governo perde sua essência, o Centrão mostrou as vísceras de um governo que se
auto desmoralizou”, disse Lemos, que é vice-presidente nacional do PSL, no
Twitter.
A intensificação nas conversas com os partidos do Centrão
é uma tentativa de Bolsonaro de construir uma base aliada no Congresso e não
depender de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem uma grande influência sobre a pauta
legislativa, e a quem o presidente disparou ataques na última semana.
Para Bozzella, o movimento se deve ao fato de Bolsonaro
se preocupar com a reeleição e pela necessidade que tem de antagonizar com
outros atores políticos. “Ele arruma um inimigo a cada instante, desde o primeiro
dia do mandato foi assim. Qualquer pessoa que se apresente minimamente com um
pouco mais de capacidade, que demonstre mais inteligência, mais luz própria ele
já acha que é um potencial adversário. Ele só enxerga 2022, ele não enxerga
outra coisa na frente. Bolsonaro está cego. É o poder pelo poder”, afirmou o
deputado.
Por sua vez, Major Olimpio considera que a estratégia de
aproximação com partidos do Centrão não é inteligente, pois, em um
enfrentamento aberto de Bolsonaro com o presidente da Câmara, a esquerda e o PT
fecham com Maia e garantem ao deputado a maioria dos votos. “Maia sabe a força
que tem ali dentro da Câmara e ele usa isso com maestria”.
“Se é para fazer um enfrentamento com o Maia,
eventualmente para tentar influenciar de forma mais efetiva na sucessão do
Maia, eu acho que o tiro pode sair pela culatra”, avalia Olimpio.
Parte das redes bolsonaristas demonstra insatisfação com
o ensaio da aliança com o Centrão. Um dos vídeos que circula entre eles mostra
o então candidato Jair Bolsonaro prometendo que acabaria com o toma-lá-dá-cá.
Desde a eleição, Bolsonaro tem dito que a forma de
relacionamento com o Congresso mudaria, com preferência para negociações via
bancadas temáticas e sem troca de cargos em Ministérios e outros órgãos da
administração federal. Desde então, ele tem tentado compor a base com
parlamentares ligados à segurança pública, ao agronegócio e à igreja
evangélica.
Radicalização
O presidente elevou a temperatura da crise política ao
participar de um ato contra o Legislativo e o Judiciário e a favor de uma
intervenção militar. O movimento foi amplamente criticado por governadores,
ex-presidentes, pelo Congresso e pelos partidos dos mais variados espectros
ideológicos. O movimento faz parte do que parlamentares e especialistas avaliam
como estratégia de manutenção da base ideológica.
Ainda em fase de conversas e negociações, a aproximação
com Bolsonaro vai depender do “tamanho da mordida” que o grupo de deputados
quer dar, disse ao Congresso em Foco um deputado ligado ao governo e ao Centrão
referindo-se à negociação com cargos.
Na visão dele, os congressistas viram na escalada da
radicalização de Bolsonaro, que o isolou do presidente da Câmara e de ministros
do STF, como uma oportunidade para negociar diretamente com o Planalto, sem
intermediários.
Fonte: Flávia Said / Congresso em Foco
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