Bolsonaro
informou o ministro, em reunião, que a mudança na PF deve ocorrer nos próximos
dias. Moro então pediu demissão do cargo, e Bolsonaro tenta agora reverter a
decisão do ex-juiz federal.
Os ministros
Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) foram
escalados para convencer o ministro a recuar da decisão. Se Valeixo sair, Moro
sairá junto, segundo aliados do ministro.
Valeixo foi
escolhido por Moro para o cargo. O atual diretor-geral é homem de confiança do
ex-juiz da Lava Jato. Desde o ano passado, Bolsonaro tem ameaçado trocar o
comando da PF. O presidente quer ter controle sobre a atuação da polícia.
Moro topou largar a carreira de juiz
federal, que lhe deu fama de herói pela condução da Lava Jato, para
virar ministro. Ele disse ter aceitado o convite de Bolsonaro, entre outras coisas,
por estar "cansado de tomar bola nas costas".
Tomou posse
com o discurso de que teria total autonomia e com status de superministro. Desde que assumiu,
porém, acumula recuos e derrotas.
Moro se firmou como o ministro mais popular do governo
Bolsonaro, com aprovação superior à do próprio presidente, segundo o
Datafolha. Pesquisa realizada no início de dezembro de 2019 mostrou que 53% da
população avalia como ótima/boa a gestão do ex-juiz no Ministério da Justiça.
Outros 23% a consideram regular, e 21% ruim/péssima.
Bolsonaro
tinha números mais modestos, com 30% de ótimo/bom, 32% de regular e 36% de
ruim/péssimo.
O ministro
também tem se mostrado, nos bastidores, insatisfeito com a condução do combate
à pandemia do coronavírus por parte de Bolsonaro. Moro, por exemplo, atuou a
favor de Luiz Henrique Mandetta (ex-titular da Saúde) na crise com o
presidente.
Com esse
novo embate, Moro vê cada vez mais distante a promessa de uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Esse caminho já estava enfraquecido especialmente depois da divulgação de mensagens privadas que trocou com
procuradores da Lava Jato.
As mensagens
obtidas pelo Intercept e divulgadas até este momento pelo site e por outros
órgãos de imprensa, como a Folha, expuseram a proximidade entre
Moro e os procuradores da Lava Jato e colocaram em dúvida a imparcialidade como
juiz do atual ministro da Justiça no julgamento dos processos da operação.
Quando as
primeiras mensagens vieram à tona, em 9 de junho, o Intercept informou que obteve
o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens
privadas e de grupos da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, no
aplicativo Telegram, a partir de 2015.
Em resumo,
no contato com os procuradores, Moro indicou testemunha que poderia colaborar
para a apuração sobre o ex-presidente Lula, orientou a inclusão de prova contra
um réu em denúncia que já havia sido oferecida pelo Ministério Público Federal,
sugeriu alterar a ordem de fases da operação Lava Jato e antecipou ao menos uma
decisão judicial.
Fonte: Folha Uol
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