A aprovação de uma vacina eficaz contra o novo
coronavírus é certamente o anúncio mais esperado do ano. A boa notícia é que
cada dia que passa, estamos mais perto disso acontecer. Em movimento inédito na
história da ciência, seis meses após o início da pandemia, 136 opções de
imunizantes estão em desenvolvimento. Entre elas, dez já estão na fase de
testes clínicos em humanos. Na edição desta semana, VEJA se debruça sobre
essas pesquisas, inclusive sobre a inclusão do Brasil na fase mais avançada e
mais importante de estudos clínicos sobre imunizantes, que busca comprovar sua
eficácia.
A empresa está entre os cinco projetos selecionados pelo
programa Operation Warp Speed do governo dos EUA para receber bilhões de
dólares em financiamento e apoio federal antes mesmo de haver provas de que as
vacinas funcionam. Além da vacina, a Pfizer também está dedicada em encontrar
tratamentos eficazes contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e
não poupa esforços nem investimentos nesta empreitada.
A previsão é gastar até 1 bilhões de dólares (cerca de 5
bilhões de reais) ainda este ano para desenvolver e fabricar uma potencial
vacina. Mesmo antes de saber se uma de suas opções de vacina irá funcionar, a
empresa já começou a preparar a linha de produção. Apenas nas fábricas e na
compra de matéria-prima, o investimento foi de 250 milhões de dólares. Além
disso, a empresa garantiu que o retorno do investimento não desempenhará um
papel em seus esforços contra a Covid-19.
Confira abaixo a entrevista completa com Mikael
Dolsten que é médico e doutor em imunologia tumoral pela Universidade de
Lund, na Suécia:
Quando a vacina da Pfizer
estará disponível? Começamos a trabalhar na vacina no
início de março, mas já tínhamos algum planejamento no final de fevereiro e eu
estou muito orgulhoso de termos iniciado os estudos clínicos há algumas
semanas [os estudos clínicos do imunizante da Pfizer
começaram no início de maio, nos EUA]. Esperamos, se tudo ocorrer
bem nos estudos clínicos e com as conversas com os órgãos reguladores, ter
vacina já disponível em outubro para milhares de pessoas e gradualmente
aumentar a quantidade até chegar a 2021 com centenas de milhões de doses. Então
é uma linha de tempo muito rápida. Nós chamamos essa linha de produção de Lightspeed (em tradução livre,
Velocidade da Luz).
Como foi possível esse tempo
tão curto? Há dois anos nós trabalhamos com uma
empresa alemã de biotecnologia, a BioNTech, que está usando essa nova, rápida e
flexível tecnologia de vacinas chamada mRNA. Quando os casos de Covid-19 se
espalharam pelo mundo, pensamos que essa nova tecnologia seria realmente útil
para a ameaça global. Esse foi um passo importante para reduzir o tempo. Temos
também uma rede de fabricação tremendamente experiente, com polos e colegas na
área de terapias biológicas com instalações em todo o mundo para colocar isso
em prática. Evidente que tudo isso só será possível, repito, com bons
resultados e apoio regulatório. Mas estou otimista dada a nossa experiência e
resultados iniciais que têm sido encorajadores.
Já houve um prazo tão curto
assim no desenvolvimento de uma vacina? Nunca vimos
algo parecido com o que estamos presenciando nos últimos cinco meses. Tantos
cientistas, no mundo todo, trabalhando juntos. Temos hoje cerca de 10 opções
mais promissoras de vacinas, 20 diferentes anticorpos monoclonais,
provavelmente uns dez antivirais e muitos imunomoduladores. Então estamos
falando de um pipeline [produtos que as empresas
farmacêuticas ou de biotecnologia têm em processo de desenvolvimento e teste] de
60 projetos mais avançados, e muitos outros menos maduros, em tão pouco tempo.
Como será a distribuição da
vacina? Ajustaremos a distribuição às necessidades em
tempo real. Lutaremos para distribuir a vacina nas partes do mundo mais
afetadas e onde houver mais risco para a sociedade e mais pacientes de risco.
Temos uma organização de distribuição em todos os principais continentes e em
centenas de países diferentes. Dessa forma podemos rapidamente trabalhar com
agências reguladoras e organizações de saúde e elaborar planos de distribuição.
Pode-se dizer, então, que no
Brasil, a vacina estará disponível até o início do próximo ano? Sim,
provavelmente é uma boa estimativa. O Brasil foi fortemente atingido pela
pandemia. Eu sinto muito pela população nesta situação e certamente esperamos
que nossa vacina e outras opções terapêuticas possam ser usadas no país.
Alguns especialistas
alertaram que esperar uma vacina aprovada em apenas 18 meses é excessivamente
otimista. O prazo da Pfizer é ainda mais curto. Como o senhor pretende colocar
isso em prática? Creio que muitos especialistas que
disseram isso trabalham em universidades ou são consultores que nunca estiveram
envolvidos no processo de desenvolvimento de vacinas, como nós na Pfizer e em
outras empresas que entregam vacinas para o mundo todo. Como já falei, usamos
uma nova tecnologia muito mais rápida que a tecnologia tradicional. Número
dois: colocamos em movimento recursos, em uma escala que nunca usamos antes. E
é claro que há um objetivo ambicioso incluído. Você sabe, se você voar alto,
talvez atinja a meta. Você se estica e consegue alcançá-la. É uma questão de
desafiar nossos dogmas e maneiras de fazer e convidar outras pessoas para
acompanhá-lo neste programa em velocidade da luz. E até agora, acho que é realmente
possível, se os dados que geramos continuarem sendo encorajadores.
Quais pessoas poderão receber
a vacina? Começamos os estudos com adultos de 18 a 55
anos e depois passamos para pessoas mais velhas porque sabemos que são os que
ficam mais doentes e são mais vulneráveis à Covid-19. Pretendemos ter uma
cobertura inicial para adultos de 18 a 85 anos, portanto. Em seguida,
procuraremos oportunidades para imunizar crianças e adolescentes.
Uma vacina é de fato mais
importante que um remédio nessa pandemia? Não gosto de
rankings. Acho que são diferentes propósitos. Uma vacina é importante para
poder abrir a sociedade de maneira mais segura. É crucial para que possamos
voltar a uma vida normal. Os tratamentos são necessários para os pacientes que
já estão doentes e para os quais a vacina é tarde demais. Além disso, sempre
haverá pacientes que não foram vacinados ou que não responderam à vacinação.
Mas leva tempo para lançar uma vacina para muitos bilhões de pessoas. Então,
precisamos de tratamentos para as pessoas que estão morrendo agora. Eu diria
que a vacina e os antivirais são os que têm maior chance de reverter e
proteger, para que não precisemos de tratamentos em estágio final. Nós mesmos
estamos analisando tratamentos como antivirais, imunomoduladores e
anticoagulantes que podem ajudar rapidamente esses pacientes. Estamos entre os
únicos com essa ampla abordagem, protegendo aqueles que não estão infectados,
tratando com antiviral aqueles que estão no início da infecção e tentar
normalizar as funções no sistema imunológico daqueles que estão avançando para
um quadro grave para reduzir o risco de vida e o prolongamento da estadia no
hospital. Mas tudo isso precisa estar alinhado com as medidas de saúde pública
como o distanciamento social, controlar cuidadosamente como as pessoas se
comportam e garantir que todos estejam cientes de como o vírus se espalha e de
agir contra isso. E sempre que alguém estiver infectado, localizar essa pessoa,
testar o ambiente à sua volta e isola-la. Então é um conjunto de medidas de
saúde pública, vacinas e terapias. Não é um desafio fácil, mas às vezes
ganhamos. Esta é a maior pandemia em cem anos. Mas estou convencido de que
dezenas de milhares de cientistas em todo o mundo conseguirão encontrar a
solução. E tenho muito orgulho de estar entre os pioneiros que trabalham com a
Pfizer.
Em que fase estão os testes
com remédios? Os testes com antivirais, que atuam
diretamente no vírus, provavelmente começarão em agosto. O foco inicial, como
eu disse, será tratar aqueles que estão no hospital e em seguida teremos um
segundo composto para tratar aqueles que ainda não estão no hospital, mas que
têm febre em casa, correm o risco de piorar e precisar de cuidados
hospitalares. Mas isso, acho que só em junho de 2021. Serão dois tipos de tratamento.
Naqueles que estão no hospital é uma infusão e nos pacientes em casa seria um
comprimido. Além disso, planejamos iniciar testes para os doentes mais graves
com imunomoduladores e anticoagulantes e assim tentar impedir a progressão da
doença.
Fonte: Veja
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