Noronha, Noronha, que vergonha. Poesia numa hora dessas?
Não, a decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça, o juiz Noronha,
que concedeu prisão domiciliar a ele, o Queiroz.
O homem, que já passou mais de um ano em domicílio
alheio, agora vai para casa curtir seu futebolzinho na TV, seu churrasquinho no
domingo, seu bom pagode e todas as demais regalias de um preso nada comum.
Nasceu virado para a Lua, esse Queiroz.
Queiroz vai para casa por causa do coronavírus. Para não
se expor ao perigo da contaminação, já que tem câncer. Era por isso, inclusive,
que estava mocosado em Atibaia, justificou seu BFF, Jair Bolsonaro.
Ficava mais prático para ir ao hospital, o Albert
Einstein, a 80 quilômetros dali. Carne no espeto e piscina faziam parte do
tratamento.
Para o Queiroz não ficar sozinho, coitado, o juiz Noronha
pensou lá na frente e concedeu um habeas corpus para a dona Queiroz, que estava
foragida e se apresentou na noite de sexta (10) para aproveitar seu benefício.
Menos sorte que o Queiroz teve o rapaz que furtou dois
frascos de xampu, dez contos cada um.
Apesar do delito sem violência, sua prisão domiciliar foi
negada por não ser a primeira vez que roubava —sentença do juiz Felix,
companheiro de STJ do doutor Noronha. Com o que concordou a ministra Rosa
Weber, do STF.
Abençoada a calvície do Queiroz, que nunca o fez meter a
mão em xampu, só no dinheiro dos outros. A história dele poderia ser bem
diferente.
Quem não teve sorte mesmo foi o jovem preto Lucas
Morais de Trindade, preso com menos de dez gramas de maconha. Condenado a cinco
anos e quatro meses, com todos os recursos negados, morreu de Covid-19 em Manhumirim, interior de Minas. Acontece muito
a quem não frequenta os amigos certos. E os filhos dos amigos. Se não nascer
branco, então, aí desiste.
Enquanto isso, Queiroz e sua excelentíssima riem da nossa
cara lá no seu ninho de amor. Mas isso todo mundo já sabe, todo mundo já viu. É
só o Brasil.
Sem entra no mérito do direito alcançado pelo senhor
Fabricio Queiroz, há outros critérios mais objetivos que também chamam atenção
de quem acompanha as notícias d Judiciário brasileiro; a celeridade que o HC
foi posto em pauta no plantão do STJ.
A sorte diferenciada começou daí…
Por Claudia Tajes na Follha
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