A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, (CNTE) e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação avaliam
que o Fundeb foi totalmente desconfigurado em Projeto de Lei (PL) 4.372/2020,
que o regulamenta. Para as entidades, o texto aprovado na noite desta
quinta-feira (10) por 311 votos a 131 é inconstitucional e ameaça o cumprimento
do piso nacional do magistério e as políticas de valorização das carreiras na
educação, representando sério risco ao ensino público brasileiro já tão
fragilizado. A proposta segue para votação do Senado.
Seguindo na contramão da Emenda
108/2020, que colocou na Constituição o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação, o Fundeb, o PL permite parcerias com a iniciativa privada que, na
prática, não passam de transferência de recursos do próprio fundo para
financiar a rede particular de ensino técnico, infantil e escolas
filantrópicas, entre outras.
A CNTE destaca que o PL permite convênios irrestritos com
creches, pré-escolas e instituições privadas que oferecem educação especial. E
autoriza a reserva de 10% das vagas do ensino fundamental e médio para a rede
particular, inclusive as mantidas por entidades confessionais (ligadas a
igrejas) e beneficentes.
“Aquelas que fazem
filantropia com recursos públicos no país”, destaca a
confederação, em carta aberta à população.
Além disso, passa para a iniciativa privada atividades
extracurriculares oferecidas no contraturno escolar. Por essa medida inédita na
educação brasileira, organizações comunitárias, confessionais e filantrópicas
poderão abocanhar mais 30% do custo-aluno do Fundeb.
Retrocesso no Fundeb
Conforme a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que
atuou diretamente na aprovação da emenda que tornou o Fundeb permanente, o PL
desrespeita a Constituição Federal de 1988 e o pacto democrático pelo direito à
educação.
Ao abrir espaço para convênios e o aprofundamento de
privatizações, o PL contraria a Constituição Federal.
“Os parágrafos 3⁰ do artigo
212 e o 1⁰ do artigo 213 asseguram a universalização da oferta de ensino
público, com padrão de qualidade e equidade conforme previsto no Plano Nacional
de Educação”, diz em nota entidade que agrega diversas
entidades da sociedade civil que defendem a educação pública gratuita e de
qualidade para todos.
A Campanha considera que, com o financiamento de
profissionais das redes privadas com verbas do Fundeb, faltarão recursos para o
pagamento dos profissionais das redes públicas – que já ganham salários 24%
menores que os com a mesma formação, mas trabalham na rede privada. Assim, a
regulamentação da emenda amplia a precarização da educação.
Exceção
No entanto, destacou aspectos da emenda 108/2020, que
representa uma vitória e um grande avanço para a educação brasileira ao ampliar
recursos e aprimorar a sua distribuição, além de instituir o Custo
Aluno Qualidade como referência e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica como avaliação.
A CNTE lembra que os municípios, especialmente os
menores, serão gravemente afetados com a redução de receitas do Fundeb com a
transferência para a iniciativa privada. E conclama gestores,
trabalhadores, estudantes e comunidade escolar a rejeitar os retrocessos impostos
pela Câmara e pressionar o Senado para reverter os pontos do novo Fundeb que
tanto prejudicarão a educação pública.
Fonte: Rede Brasil Atua
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