A derrubada de nove vetos da governadora Fátima Bezerra
(PT) às emendas aprovadas na Lei de Diretrizes Orçamentária de 2021, na
Assembleia Legislativa, tem leitura que vai além de explicações e/ou
justificativas técnicas. A decisão por maioria do plenário é um viés
político-eleitoral que abre as portas da sucessão estadual 2022, com DNA do
presidente da Casa, Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB).
Antes dos vetos, o grupo de Ezequiel já havia mandado
recado a Fátima Bezerra, quando aprovou e promulgou a PEC das emendas
impositivas, para desgosto da governadora. De autoria do deputado Tomba Farias
(PSDB), a PEC acrescentou o artigo 107-A à Constituição do RN, para autorizar a
transferência de recursos estaduais aos municípios mediante emenda ao projeto
da Lei Orçamentária Anual (LOA). Na prática, permite aos municípios receberem
recursos sem a necessidade de firmar convênios. Ou seja, tira o poder de
negociação do governo junto aos gestores municipais.
As duas derrotas do governo no plenário da Assembleia
partiram do presidente da Casa, chanceladas pelo numeroso bloco de deputados
que seguem a sua liderança. Para os mais açodados, Ezequiel antecipou o
rompimento político com Fátima Bezerra. Já os observadores mais atentos apostam
que houve uma separação de corpos, devendo o divórcio ser oficializado no
finalzinho do semestre de 2021 ou no mais tardar quando começar o período do
“BRO” (setembro, outubro, novembro e dezembro). Até lá, vão viver de
aparências.
Mas, por que Ezequiel e Fátima vão romper politicamente?
Resposta simples: no palanque da governadora não cabe o projeto eleitoral do
presidente da Assembleia. Ezequiel trabalha para ser candidato ao Senado da
República e Fátima já tem um candidato natural que é o senador Jean-Paul Prates
(PT), com direito à reeleição. Aliás, Paul foi consultado pelo partido se teria
condições de viabilizar a estrutura de campanha e a resposta foi “sim”. Ou
seja, ele não abre mão de disputar as eleições 2022.
Ezequiel foi importante na campanha vitoriosa de Fátima
em 2018, quando desembarcou no palanque no segundo turno das eleições. Ele
assumiu os louros do triunfo. Fátima reconheceu a sua importância e o levou
para o discurso da vitória. No primeiro ano de gestão, em 2019, Ezequiel
mostrou-se fiel e sustentou os projetos do governo encaminhado ao Legislativo.
Por gravidade ocupou espaços na máquina estadual e ainda mantém cargos
importantes, mas com as gavetas devidamente arrumadas.
O distanciamento de Ezequiel da Governadoria se mostrou
mais claro no último mês, quando ele se tornou passageiro da caravana do
ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), possível adversário de
Fátima Bezerra na disputa pelo Governo do Estado. Ezequiel iniciou andanças
pelo RN com Marinho no início de dezembro e, antes, foi a Brasília para a solenidade
de lançamento do projeto Seridó, cujo DNA o ministro disputa com a governadora.
Pois bem.
Ezequiel Ferreira vai entrar 2021 com a disposição –
azeitada – para consolidar a candidatura ao Senado da República. E Fátima
Bezerra, com a missão de viabilizar a reeleição, consciente da resistência que
encontrará na Assembleia Legislativa. O diálogo direto com o povo parece ser o
melhor caminho.
Fonte: Cesar Santos
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