Um grupo de 12 profetas da chuva - observadores da natureza, reunidos no fim da manhã deste sábado (23), em Quixadá, no Sertão Central, apontou em sua ampla maioria um período chuvoso acima da média histórica para o período que compreende fevereiro a maio. O evento ocorre há 25 anos e na atual edição, por causa da pandemia, reuniu 50% de participantes em comparação com encontros anteriores.
O coordenador e
um dos fundadores do evento, Hélder Cortez, observou que as previsões
apresentadas na manhã desse sábado coincidem com as observações de encontros anteriores em Orós, no último dia 6, e de Tauá, realizado de forma online no dia 8 passado. “São
previsões otimistas, mas com maior tendência para que as chuvas comecem de
forma mais intensa a partir de março”, pontuou.
Hélder Cortez
ressaltou que as previsões populares “não
sofrem influência do que foi divulgado pela ciência” - o prognóstico das
agências de meteorologia – que apontam para o Ceará maior tendência de chuva
acima da média para a região norte e abaixo da média para a porção central e
sul do estado.
A única mulher a
participar do encontro de Quixadá, Lourdes Leite (Lurdinha) afirmou que “a
experiência é boa e vai chover muito”. Francisco Batista espera que já a partir
de fevereiro as chuvas cheguem ao sertão e
vão continuar em março e abril. “Em maio já não teremos mais chuva”, disse.
O agricultor e
observador José Freire acredita em “chuvas irregulares, mas com boas chuvas em
março” e lamentou “a agressão que é feita contra a natureza”.
Para o poeta
Erasmo Barreira "não há porque se desesperar porque
vai chover muito a partir de 20 de fevereiro”. O agricultor e observador Josué
Viana disse que aprendeu com os pais a acompanhar os astros e que “neste ano
vai ser bom e vai fazer muita água”.
Renato Lino
apresentou uma casa do pássaro João de Barro e
explicou que “foi feita com a entrada virada para o poente” e mostrou também
uma cabaça com sementes que significa outro bom sinal. “Vamos ter um inverno
ótimo a partir do fim de fevereiro”.
Outro poeta que
acredita em um período de chuva acima da média,
mas tardio é José Irismar. Ele observa as estrelas. “A partir de fevereiro, nós
teremos bastante chuva”.
João Soares é um
dos fundadores e organizadores do evento e reforçou uma preocupação presente
entre os profetas e dirigentes do encontro. “Precisamos manter essa cultura,
essa sabedoria popular entre as novas gerações se não
vai se acabar com os profetas já idosos e morrendo”, pontuou. Sobre a previsão
para a próxima quadra chuvosa disse acreditar “em muita chuva”.
Hélder Cortez
esclareceu que “a visão do profeta, as suas experiências somente têm valor local, não pode ser aplicada para outras
regiões”.
O dentista e
observador da natureza que herdou os ensinamentos e experiência do pai, Paulo
Costa, por problemas de saúde não compareceu ao evento, mas adiantou
que “as chuvas serão melhores a partir da segunda quinzena de março”.
A voz
discordante do encontro foi do profeta Venceslau Batista ao afirmar que o
Sertão Central “terá um inverno muito ruim, muito irregular, com chuvas chegando com mais força em fevereiro, mas
termina logo em março”.
José Irismar é o único a se basear em indicadores utilizados pelos meteorologistas e mostrou preocupação com a temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico Tropical que permanece mais fria do que a porção norte. “Se continuar assim, não vai atrair a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e as chuvas serão fracas”.
Meteorologia
A previsão acerca da quadra chuvosa (fevereiro a maio) no Ceará divulgada no último dia 20 pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) para o trimestre fevereiro, março e abril deste ano indica 50% de probabilidade para chuvas abaixo da média para o Ceará.
O prognóstico
aponta 40% de chances de precipitações em torno da normalidade e 10% na
categoria acima da normal climatológica. Se as previsões forem confirmadas, o
acumulado médio não deve ultrapassar 433,1 milímetros nos três meses, em média.
Os
meteorologistas observam, entretanto, que o cenário previsto vai depender do
comportamento da temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico
Equatorial e Sul Tropical que por ser uma bacia pequena em relação ao Pacífico
sofre mudanças em período curtos em torno de 30 dias. “Isso requer um
monitoramento frequente”, advertiu o presidente da Funceme, Eduardo Sávio
Martins.
Fonte: Diário do Nordeste
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