A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) divulgou nota de repúdio ao novo ataque do presidente Jair Bolsonaro à
imprensa. Para a Abraji, Bolsonaro age como ditador e autocrata ao defender o fechamento
de três jornais e um site cujas
publicações lhe desagradam.
"A Abraji repudia as declarações do presidente. Ele
se diz democrata, mas seus atos e palavras apontam na direção oposta.
Autocratas e ditadores costumam usar estratégias discursivas para defender o
fechamento de jornais: constroem, antes, um ambiente de hostilidade e demonizam
a imprensa para confundir a população", diz trecho da nota da entidade.
Na avaliação da associação, Bolsonaro ignora a
responsabilidade do cargo que ocupa ao desrespeitar os direitos políticos,
individuais e sociais, atentando contra a liberdade de imprensa.
"Bolsonaro distorce o discurso da proteção da liberdade de expressão para
atacar a imprensa. Com isso, despreza o papel fundamental de uma imprensa independente
e crítica na manutenção da democracia."
Em live transmitida
nessa segunda-feira (15) pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP),
o presidente afirmou que "o certo" para acabar com as fake news seria
tirar de circulação alguns dos principais veículos do país. “Na minha página ou
na página de qualquer um, com todo respeito, é a página do presidente da
República. Eu sou qualquer um, do povo: proibir anexar imagens a título de
proteger fake news? O certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque
sou democrata — tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, site o Antagonista, que são fábricas de fake news", declarou.
Bolsonaro também defendeu maior taxação das redes
sociais, ao manifestar inconformismo com a decisão do Facebook de proibir seus
seguidores de anexar imagens em comentários em sua página como forma de evitar
a disseminação de notícias falsas.
Veja a
nota da Abraji:
"Ameaçar tirar de
circulação jornais é próprio de autocratas e ditadores
Nesta segunda-feira
(15.fev.2021), durante o feriado de Carnaval no litoral de Santa Catarina, o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa.
O presidente gravou um vídeo
no qual critica o Facebook, defende uma lei para aumentar a taxação das redes
sociais no Brasil e o fim das operações dos três maiores jornais do país:
“Na minha página ou na página
de qualquer um, com todo respeito, é a página do presidente da República. Eu
sou qualquer um, do povo: proibir anexar imagens a título de proteger fake
news? O certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque sou democrata
— tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, site o Antagonista, que são fábricas de fake news".
No vídeo transmitido em uma
live pelo filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente
alega que o Facebook estaria impedindo seus seguidores de publicar imagens nos
comentários das publicações.
“Agora deixa o povo se
libertar, porque tem liberdade. Logicamente que, se alguém extrapolar alguma
coisa, tem a Justiça para recorrer. Agora o Facebook bloquear a mim e a
população é inacreditável [...] E não há uma reação da própria mídia, ela se
cala. Falam tanto da liberdade de expressão para eles em grande parte mentir
com matérias. Agora para a população é uma censura que não se admite".
A Abraji repudia as
declarações do presidente. Ele se diz democrata, mas seus atos e palavras
apontam na direção oposta. Autocratas e ditadores costumam usar estratégias
discursivas para defender o fechamento de jornais: constroem, antes, um
ambiente de hostilidade e demonizam a imprensa para confundir a população.
É inaceitável que o
presidente insinue que a mídia brasileira seja conivente com a censura e
produza tão somente reportagens mentirosas. Bolsonaro distorce o discurso da
proteção da liberdade de expressão para atacar a imprensa. Com isso, despreza o
papel fundamental de uma imprensa independente e crítica na manutenção da
democracia.
Contrariando o art. 85 da
Constituição, Bolsonaro esquece que é responsabilidade do cargo que ocupa o
respeito ao exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, sendo
impedido de atentar contra a liberdade de imprensa.
Diretoria da Abraji, 16 de fevereiro de 2021."
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