As tarifas residenciais de energia deverão ter um aumento
médio de 14,5% em 2021. A projeção foi feita TR Soluções, empresa de tecnologia
aplicada ao setor elétrico, por meio do Serviço para Estimativa de Tarifas de
Energia (SETE), que considera dados de todas as 53 distribuidoras do país, além
de sete permissionárias.
Embora não tenha divulgado o percentual específico, no
Rio de Janeiro, a empresa, que fez a estimativa a pedido da Associação
Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), projeta que os
consumidores da Light vão receber contas de luz com aumento pouco abaixo dos
10%. Já para os clientes da Enel o impacto poderá serum pouco menor, com uma
alta que não deverá ultrapassar os 5%.
Na região, Sudeste, o estudo estima uma alta de 13,1%,
mas algumas empresas podem chegar a aplicar até 20%, dependendo de seus custos.
Conta Covid
O reajuste anual das distribuidoras, que no Rio de
Janeiro, por exemplo, começa a ser aplicado a partir de 15 de março, terá
impacto da chamada conta Covid. Na prática, são os custos de empréstimos da
ordem de R$ 15,3 bilhões feitos pelas distribuidoras em 2020 para conseguir
pagar a energia contratada junto às geradoras.
As companhias que fornecem energia elétrica às
residências foram muito impactadas pela pandemia de Covid-19. Isso porque o
isolamento social gerou uma diminuição drástica do consumo de energia pelos
setores de comércio, serviço e indústria.
A sobreoferta ocorre porque, para garantir que não falte
energia elétrica para ninguém, as distribuidoras compram o produto com
antecedência. Elas fazem esse cálculo com base no que população normalmente
consome e também projetam o quanto isso pode aumentar no futuro.
Com a queda inesperada do consumo, as distribuidoras
deixaram de entregar toda a energia contratada aos consumidores e,
consequentemente, de serem pagas por isso. Mas, apesar disso, têm que pagar,
para as companhias geradoras, os valores originalmente acordados. Isso para as
distribuidoras não entrarem em crise financeira e falirem, prejudicando o fornecimento
de energia no país todo. Essa perda de receita da ordem de R$ 15,3 bilhões.
Socorro às distribuidoras
Com o objetivo de socorrer as distribuidoras e suavizar o
aumento da conta de luz, o governo federal criou a conta Covid.
— A medida permite que o aumento da tarifa que ficaria
concentrado em dois anos seja diluído por cinco. Foi a forma encontrada para
que os consumidores não sintam tanto o impacto — avalia o presidente da
Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa.
De acordo com técnicos, a dívida será remetida aos
consumidores porque energia é um bem essencial e, se houvesse uma quebradeira
generalizada das empresas, o país ficaria às escuras, com impactos sociais e
econômicos devastadores. Por isso, os contratos vêm com essa garantia.
— Na pandemia, as empresas ficaram subcontratadas, e
receberam valores bem mais baixos do que os preços que tinham comprado das
geradoras. Elas ficaram com passivo financeiro e tiveram um socorro. Os custos
serão repassados aos consumidores, mas foram postergados. Nas tarifas de 2021,
1/5 dos custo vai ser reconhecido. Tudo será pago em 60 meses. Se não fosse a
conta Covid teria um reajuste tarifário muito maior. O objetivo foi reduzir o
impacto para os consumidores, em vez de se cobrar tudo de uma vez — afirma
Helder Sousa, diretor de Regulação da TR Soluções.
Para a professora Joisa Dutra, da FGV Ceri, o mercado de
energia no país deve observar também a capacidade de pagamento dos usuários e o
nível de comprometimento de renda para arcar com item tão essencial com a luz:
— A tarifa hoje é alta para pessoas e consumidores
residenciais e empresas, comprometendo sua competitividade, e nós estamos num
momento de crise. É um processo em que estão buscando equilíbrio econômico
financeiro para as empresas mas que comprometendo a capacidade de pagamento das
pessoas — observa a professora.
Estimativa por região
Em termos regionais, as análises da TR Soluções mostram
que as variações médias mais significativas devem ser observadas nas regiões
Centro-Oeste e Norte.
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