Eu não sei por que ainda nos surpreendemos pelas
barbaridades que acontecem dentro do parlamento brasileiro, visto que desde
sempre os deputados, eleitos pelos brasileiros, se comportam de maneira
grotesca, salvo aqueles que fazem a política com “p” maiúsculo, que são poucos.
O que ocorreu segunda-feira 01, quando vimos mais um episódio
em que os deputados se venderam alegremente ao governo e expressaram isso sem
nenhum tipo de pudor, não foi nenhuma novidade.
O novo presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira,
uma alagoano que é advogado e agropecuarista, filiado ao Progressistas (PP), e
que tem várias denúncias e processos de corrupção, práticas nada
republicanas, representa muito bem o que é o voto do brasileiro.
De nada adianta os assombros por parte de um segmento da
população que acompanhou o processo, que em muito lembrou o circo de 15 de
abril de 2016, quando os deputados, num espetáculo deprimente, autorizavam o
prosseguimento do processo de impedimento da então presidenta Dilma Roussef,
que seria derrubada de maneira definitiva em 31 de agosto, com o voto dos
senadores. A esmagadora maioria da população, que normalmente não se importa
com esse processo, agora, com a pandemia, simplesmente a ignorou.
Lira foi o segundo candidato a federal mais votado de
Alagoas, recebendo 143,8 mil votos, o que significou nada menos que 9,8% dos
votos válidos dados aos candidatos a deputado federal daquele estado, portanto
sua presença na Câmara, mesmo com todas as investigações e acusações, foi
respaldada pelo eleitor. O mesmo eleitor que permitiu que uma fascista
tresloucada, a tal de Bia Kicis, que venera o mandrião do Planalto, fosse
alçada à condição de presidenta da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
de Deputados (CCJ). Esta senhora, que é um exemplo de como uma pessoa pode ser
ridícula em termos de postura política, recebeu 86,4 mil votos (6,0% dos votos
válidos) e, por isso, legitimou sua presença numa das comissões mais
importantes do parlamento.
Enquanto os deputados federais e senadores participavam
desse circo, as pessoas continuavam, e continuam a morrer. Não se viu, nesses
dias, nenhuma demonstração de sensibilidade dos representantes do povo. Nenhuma
palavra de alento. Nada.
Mas não adianta as falas de espanto, de raiva ou de
assombro, com o que aconteceu, ou será que o “centrão” um amontoado de gente
sem escrúpulos e que se dispõe a todo tipo de negociata, é novidade? Essa horda
está no parlamento desde 1989, e esteve presente em todos os governos de lá
para cá. Bolsonaro, o fanfarrão, historicamente ligado ao chamado “baixo
clero”, deputados medíocres, achou que poderia “cantar de galo” com esse
pessoal, mas foi literalmente “engolido” por ele.
Se quisermos mudar o país, se quisermos dar melhor
qualidade ao nosso parlamento, teremos, como cidadãos, de começar a mudar nossa
relação com o voto, e isso não será fácil, ou seja, nosso fundo do poço ainda
está longe de chegar.
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