Leonardo Ribeiro, analista do Senado e especialista em contas
públicas, disse a O Antagonista que a distribuição
de recursos públicos para parlamentares específicos por meio das emendas
do relator do orçamento — esquema
que este site noticia desde o início de 2020 e que passou a ser chamado de
Bolsolão — faz com que Jair Bolsonaro perca
o discurso que o elegeu presidente.
“O presidente foi eleito com um discurso
de que não faria mais esse tipo de gestão. Mas o seu ‘time
técnico’ é muito fraco, não consegue apresentar um projeto consistente para
defender no Congresso. Além disso, o próprio presidente é um gerador de
conflitos”, afirmou o
especialista.
Nesse
contexto, acrescentou Ribeiro, “o Congresso cresce”.
“Temos um Parlamento politicamente fragmentado, com
um grande número de partidos, sem coesão ideológica. Vejo uma
narrativa política que pode enfraquecer o presidente, que perde o discurso da
eleição.”
Ribeiro
lembrou que predomina no Brasil o chamado presidencialismo de
coalizão, no qual cargos políticos e verbas orçamentárias são os
instrumentos usados pelo Poder Executivo. Ele recordou também que mudanças
recentes na Constituição tornaram obrigatória a execução das emendas
individuais e as de bancada, observado um percentual da receita corrente
líquida do governo federal, mas as emendas do relator do orçamento
não entraram nessa regra.
“Acredito que as debilidades técnicas do atual
governo em negociar e articular políticas no Congresso ocasionaram o aumento da
parcela do orçamento direcionada para essa categoria de emendas, cuja execução
é discricionária, o que abre margem para coalizões políticas
via verbas orçamentárias.”
O
Bolsolão precisa ser investigado, no entender do especialista, pois, “tecnicamente,
há desperdício de recursos, comprometimento da transparência e da qualidade do
gasto”. Para Ribeiro, “a pressão da mídia e da sociedade será
fator fundamental no desenrolar dos fatos”.
“É preciso apurar de perto. Nesse caso, o Senado está
focado na CPI da Covid e, na Câmara, as lideranças explicam que não ocorreu
nada fora do lugar. O TCU é um órgão auxiliar do Legislativo e não sei se terá
autonomia para vasculhar o que aconteceu. O MPF pode fazer
barulho, mas o procurador-geral da República é bastante ligado ao presidente Bolsonaro. Em
última análise, creio que a pressão da mídia e da sociedade será fator
fundamental no desenrolar dos fatos.”
O Antagonista
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