No último dia 8, uma quinta-feira, o presidente da
Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da
Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O
general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em
2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro
estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica.
O presidente Jair Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça
de Braga Netto no mesmo 8 de julho. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou
não temos eleições”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada
do Palácio da Alvorada.
A portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via
aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. Diante
da possibilidade de o Congresso rejeitar a proposta de emenda à Constituição
que prevê o voto impresso – ainda hoje em tramitação numa Comissão Especial da
Câmara –, Bolsonaro subia cada vez mais o tom.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, no dia 6 de
maio, o presidente já dizia, sem apresentar provas, que o atual sistema de urna
eletrônica permite fraude. “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não
vou nem falar mais nada. (…) Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai
ter a eleição. Acho que o recado está dado”, afirmou Bolsonaro. O que não se
sabia, àquela altura, é que o presidente contava com o apoio da cúpula militar
para suas investidas autoritárias.
Lira considerou o recado dado por Braga Netto como uma
ameaça de golpe e procurou Bolsonaro. Teve uma longa conversa com ele, no
Palácio da Alvorada. De acordo com relatos obtidos pelo Estadão, o presidente
da Câmara disse ao chefe do Executivo que não contasse com ele para qualquer
ato de ruptura institucional. Líder do Centrão, bloco que dá sustentação ao
governo no Congresso, Lira assegurou que iria com Bolsonaro até o fim, com ou
sem crise política, mesmo se fosse para perder a eleição, mas não admitiria
golpe.
Bolsonaro respondeu que nunca havia defendido um golpe.
Afirmou, ainda, que respeitava “as quatro linhas da Constituição”, como sempre
costuma dizer em público. Lira rebateu, observou que o emissário havia sido
muito claro ao dar o alerta e avisou o presidente de que a Câmara não embarcaria
em nada que significasse rompimento com a democracia.
Fonte: Estadão
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