Conselhos de medicina e de serviço social apuram como
Alysson Bezerra (Solidariedade) foi autorizado a entrar na sala de operações.
Procurada, a prefeitura não comentou a gravação, e comemorou a retomada dos
procedimentos que estavam parados havia anos.
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte
abriu uma apuração sobre as circunstâncias de um vídeo gravado pelo prefeito de
Mossoró, Alysson Bezerra (Solidariedade) dentro de uma sala onde uma paciente
passava por uma cirurgia ginecológica, na última sexta-feira (8).
O vídeo foi postado nas redes sociais do prefeito,
que contam com mais de 110 mil seguidores. Ele mostrava, além da equipe médica,
os braços da paciente. O g1 borrou
as imagens.
O caso gerou repercussão nas redes sociais. A gravação
foi feita pelo político para comemorar a retomada das cirurgias ginecológicas,
que estavam paralisadas havia anos no município e que têm mais de 450 pacientes
na fila de espera, segundo a prefeitura.
Após a repercussão, o Conselho de Medicina informou em
nota que tomou conhecimento sobre o fato e está apurando todas as informações
sobre a gravação do vídeo.
A assessoria da prefeito foi procurada, mas nada falou
sobre a gravação. Na nota encaminhada ao g1, a prefeitura apenas comemorou
a retomada dos procedimentos.
Ainda de acordo com o município, a retomada das cirurgias
ocorreu através de convênio com a Associação de Assistência e Proteção à
Maternidade e à Infância de Mossoró.
Já a diretoria do Hospital Maternidade Almeida Castro,
que é filantrópico, administrado pela associação e mantido com recursos
públicos, informou que não iria se pronunciar sobre o assunto, mas que vai
tratar o tema internamente com o Conselho de Medicina.
A vice-coordenadora da subseccional do Conselho Regional
de Serviço Social (Cress) em Mossoró, Karina Gadelha, considerou que só
poderiam entrar na sala pessoas que estivessem diretamente ligadas à cirurgia,
ou profissionais de saúde, principalmente durante a pandemia. Ela afirma que é
preciso apurar quem autorizou a entrada do prefeito e de seus assessores no
local. O conselho é responsável pela fiscalização dos profissionais de serviço
social, que cuidam do acolhimento dos pacientes.
"O retorno das cirurgias não justifica a entrada em
meio a uma cirurgia da mulher, numa situação de constrangimento. Há evidência
de violação de direitos. Precisamos descobrir quem deu esse 'direito' e acionar
o Ministério Público. Uma questão midiática não pode se sobrepor à intimidade,
com a violação sobre o corpo da mulher ou do homem", afirmou.
A paciente envolvida no caso disse que não quer falar
sobre o assunto, por estar se recuperando da cirurgia. A acompanhante, que
pediu para não ser identificada, informou que só soube da presença de outras
pessoas na sala de cirurgia por meio da imprensa.
O vídeo
O caso ocorreu Hospital Maternidade Almeida Castro, na
sexta-feira (8). No vídeo gravado e postado nas redes sociais, o prefeito
comemora a retomada dos procedimentos. Também é possível ver flashs de câmeras
fotográficas e a equipe médica trabalhando.
"Nós acabamos de tomar conhecimento do caso de uma
paciente que estava aguardando para realizar um procedimento cirúrgico
ginecológico há quatro anos e hoje está pondo fim a essa espera. A Prefeitura
de Mossoró cumpre seu compromisso com a população garantindo acesso à
saúde", diz o prefeito no vídeo gravado dentro da sala de cirurgia.
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