O Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte
(SinMed-RN) se posicionou nesta segunda-feira (8) sobre a morte de um idoso que
teve atendimento médico negado no Hospital Walfredo Gurgel, em Natal, antes de
sofrer uma parada cardíaca. O falecimento de José William aconteceu na última
sexta-feira (5) e foi registrado em vídeo pela própria vítima. As imagens
repercutiram e geraram comoção em torno do ocorrido.
De acordo com a nota do SinMed, o estado potiguar tem
vivenciado “uma degradação dos serviços públicos na área de saúde”. E afirmou
que “o drama da saúde pública Estadual adquiriu contornos mais alarmantes esse
último final de semana, com um vídeo publicado nas redes sociais por familiares
de um paciente que procurou socorro no maior hospital do Estado e, como a porta
é referência para trauma, não conseguiu ser atendido”.
O documento é assinado pelo presidente do Sinmed RN, Dr.
Geraldo Ferreira Filho, e pelo presidente da Associação Médica do RN (AMRN),
Itamar Ribeiro de Oliveira.
Segundo a entidade, o caso lançou luz sobre demandas
reprimidas na área da saúde, e sugere a ampliação da rede de atendimento com
abertura de leitos, serviços e hospitais suficientes para a assistência à
população, a realização de concursos e o abastecimento de insumos, equipamentos
e exames. Além disso, recomenda triagem adequada no atendimento e resolução das
filas para consultas, exames e cirurgias.
“Assim, filas de pacientes se acumulam na espera e cirurgias
são canceladas pelos hospitais privados e filantrópicos complementares por
falta de pagamento. Os pacientes se acumulam nos corredores, superlotando os
hospitais públicos. A partir daí, a engenharia dos gestores para frear a
chegada de pacientes aos hospitais é uma forma rígida e engessada de referência
e regulação que represa os pacientes em casa ou em unidades de saúde sem equipe
e resolutividade, o que resulta em prejuízos imensuráveis aos pacientes, por
vezes a perda da própria vida”, destaca a nota.
José William relatou que sentiu um incômodo na região do
peito e gravou um vídeo, afirmando que não conseguiu ser atendido na unidade
hospitalar. O idoso morreu pouco depois, vítima de uma parada cardíaca. Ele foi
intubado no Hospital dos Pescadores, na capital, mas não resistiu.
O sindicato manifestou, ainda, solidariedade aos familiares
da vítima: “manifestamos nossa solidariedade pública a toda população do Estado
e, particularmente, aos familiares e pacientes tão brutalmente atingidos pela
desassistência na saúde pública que ora nos atinge”.
Nesse sentido, Williana, filha do idoso, se posicionou:
“outras famílias não devem passar por isso também. Eles o hospital, poderiam
ter prestado os primeiros atendimentos e estabilizar antes de regulá-lo para
outro serviço”.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) emitiu posicionamento
sobre o caso e afirmou que abrirá sindicância. “A Sesap esclarece que, em
relação ao usuário que buscou, na última sexta-feira (5), atendimento no
Hospital Walfredo Gurgel (HWG), foi aberta uma sindicância para que se faça uma
apuração aprofundada dos fatos, a fim de que sejam tomadas as providências
cabíveis”, diz a nota.
Leia a nota na
íntegra:
“Assistimos há
tempos uma degradação continuada dos serviços públicos na área de saúde. A
deterioração vem da estrutura das Unidades de Saúde antigas e sucateadas,
agravada pelo fechamento de hospitais, como o Ruy Pereira em Natal e o Dr.
Getúlio Sales em Canguaretama, da negativa dos gestores de fazer concursos,
piorada com a contratação de empresas terceirizadas sem médicos e sem
experiência na prestação de serviços, e de uma gestão errática sem calendário
de pagamentos a prestadores de serviços e fornecedores.
Assim, filas
de pacientes se acumulam na espera e cirurgias são canceladas pelos hospitais
privados e filantrópicos complementares por falta de pagamento. Os pacientes se
acumulam nos corredores, superlotando os hospitais públicos.
A partir daí,
a engenharia dos gestores para frear a chegada de pacientes aos hospitais é uma
forma rígida e engessada de referência e regulação que represa os pacientes em
casa ou em unidades de saúde sem equipe e resolutividade, o que resulta em
prejuízos imensuráveis aos pacientes, por vezes a perda da própria vida.
Em visita a
Mossoró, no dia 06 de novembro, tomamos ciência de uma paciente que teve
fratura exposta, foi operada pela ortopedia no Hospital Tarcísio Maia, mas ante
o risco de perder o membro inferior por falta da intervenção vascular que
precisava ser feita e não foi, por falta de material, teve que ser transferida
às pressas para Natal, onde fez revascularização e aguarda a evolução do caso,
na expectativa de que a perna ainda possa ser salva.
O drama da
saúde pública Estadual adquiriu contornos mais alarmantes esse último final de
semana, com um vídeo, publicado nas redes sociais por familiares de um paciente
que procurou socorro no maior hospital do Estado e, como a porta é referenciada
para trauma, não conseguiu ser atendido, sendo orientado a procurar uma UPA. A
família encontrou o vídeo no telefone do paciente, quando já era tarde demais e
o paciente tinha falecido.
Manifestamos
nossa solidariedade pública a toda população do Estado e, particularmente, aos
familiares e pacientes tão brutalmente atingidos pela desassistência na saúde
pública que ora nos atinge.
Natal RN, 08
de novembro de 2021
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