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Como os conceitos de voto envergonhado e espiral do silêncio se aplicam às eleições de 2022

 

Diante de uma eleição presidencial polarizada entre candidatos com grande rejeição, especialistas ouvidos pela CNN apontam que as urnas podem revelar um voto que, em público, é “silenciado”: o voto envergonhado.

O fenômeno ocorre quando eleitores optam por esconder suas preferências durante a campanha com receio de uma suposta reação negativa das pessoas, explicam especialistas.

O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto afirma que essas pessoas tendem a silenciar em público. No entanto, demonstram sua preferência privadamente nas urnas.

“Eu silencio quando tenho que falar com os outros, me posicionar dentro do grupo, assumir uma postura pública, mas não necessariamente vou ficar quieto quando estiver ali só comigo mesmo e podendo expressar a minha real crença”, comenta.

Por isso, institutos de pesquisa tentam mensurar se o voto envergonhado pode ser responsável por uma subnotificação nas intenções de voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no presidente Jair Bolsonaro (PL) em pesquisas eleitorais.

Em entrevista à CNN no final de agosto, o cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda, mencionou que pode existir uma subnotificação do voto em Bolsonaro em segmentos de menor renda e menor escolaridade.

A hipótese é baseada no fato de que o atual presidente tende a ter melhores resultados nas pesquisas telefônicas, quando, segundo ele, não há o constrangimento de declarar a sua real intenção de voto como existe na forma presencial.

A Quaest, no entanto, mensurou o voto envergonhado através de pesquisas durante os meses de abril e setembro, a partir de uma metodologia similar à usada para medir os níveis de racismo nos Estados Unidos – pesquisadores comparam o percentual de pessoas que se identificam como racistas com o percentual de pessoas que dizem que os outros são racistas.

Os resultados da Quaest indicam que os eleitores de Lula são os que mais deixam de opinar sobre a sua preferência, sobretudo por medo.

Espiral do silêncio

Ao justificarem as possíveis subnotificações de votos em Lula e Bolsonaro, os pesquisadores citam a teoria da espiral do silêncio, elaborada pela norte-americana Elisabeth Noelle-Neumann na década de 1960.

A espiral do silêncio ocorre, segundo Lavareda, quando uma pessoa discorda de uma opinião amplamente majoritária do seu grupo e, por isso, opta por ocultar suas opiniões para evitar um mal-estar em seu grupo social.

“Tem de fato a espiral do silêncio, que é essa ideia de que, se eu estou em um contexto em que o meu entorno todo tem uma posição e a minha posição é divergente, eu tendo a ficar quieto sobre aquilo, tendo a não me manifestar. E, claro, em uma situação de voto secreto na urna, pode acabar produzindo um não silenciamento”, explica Cláudio Couto.

O cientista político acredita que há votos envergonhados dos dois lados, mas destaca que, do lado lulista, a violência política é um fator determinante para que os eleitores escondam suas preferências. Além disso, reforça a relevância dos contextos nos quais as pessoas estão inseridas.

“É possível que tenham mais votos envergonhados no Bolsonaro no Nordeste e mais votos envergonhados no Lula no Sul do país, eventualmente em setores do Sudeste, Centro-Oeste onde a gente sabe que o Bolsonaro é mais forte”, diz o professor.

Rejeição e estigma reforçam silenciamento

De acordo com a cientista política e professora Nara Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o voto envergonhado tem como base os estigmas carregados por Lula e Bolsonaro, que fazem ambos terem grande rejeição.

De acordo com ela, o candidato do PT ainda tem uma imagem marcada pelos casos de corrupção dos governos petistas e por ter sido alvo da Lava Jato. Em relação a Bolsonaro, pesam a avaliação negativa de seu governo e as suas falas “controversas”.

Pesquisa Genial/Quaest publicada na quarta-feira (21) demonstrou que o atual chefe do Executivo é rejeitado por 54% do eleitorado, enquanto Lula tem 46% de rejeição.

“Esses dois tipos diferentes de estigmas que os candidatos têm é que servem de base para a questão do voto envergonhado. Então sim, a gente tem bases muito fortes para imaginar que exista esse fenômeno do voto envergonhado nessas eleições, muito mais do que nas de 2018, quando os candidatos eram desconhecidos”, diz Pavão.

Deu em CNN 

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