O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pode
enfrentar dificuldades de governabilidade com o Congresso Nacional eleito para
tomar posse em 1º de fevereiro de 2023. A maioria dos 512 deputados federais e
dos 27 (do total de 81) senadores eleitos está politicamente alinhada ao centro
e à direita.
O PL, partido do atual presidente, Jair Bolsonaro, elegeu
a maior bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. A sigla deve
ter 99 deputados federais e 13 senadores a partir do ano que vem.
O advogado e analista político Isaac Simas avalia que,
apesar de o Congresso "permanecer, em essência, fisiológico, temos um
contingente muito maior de parlamentares que se elegeram ou se consolidaram no
bolsonarismo. Diferentemente do 'centrão' original, esses congressistas com
posicionamento político definido (efetivamente de direita) não irão aderir a
pautas governistas facilmente".
"O PT, pela primeira vez, irá conhecer uma oposição
de verdade, que será infinitamente mais atuante do que o PSDB foi nos governos
Lula e Dilma. Apesar disso, acredito que os membros mais neutros e históricos
do 'centrão' irão ceder e compor o governo, como fazem desde o início da
redemocratização", afirma o pesquisador.
"Ao final, teremos uma dificuldade maior na
governabilidade, principalmente por conta da polarização existente, que
impedirá essa composição inicial." Simas diz, entretanto, que esse grupo
pode acabar apoiando algumas pautas governistas, apesar de ter potencial de
causar "tumulto" na apreciação de projetos do Executivo. "Ainda
haverá essa dissidência que sempre será contra o governo; apesar de minoritária
dentro do centrão, criará bastante tumulto às pautas governistas."
Nauê de Azevedo, advogado e cientista político, afirma
que "o que vai definir se o Lula vai ter dificuldade ou não de
governabilidade é a relação que ele vai estabelecer com parlamentares-chave que
estarão na Câmara e no Senado. Na Câmara, destaco muito o relacionamento que
ele vai precisar ter com Arthur Lira, atual presidente da casa legislativa,
que hoje é um quadro muito poderoso lá dentro".
"O Congresso pode estar mais à direita, tem perfis
mais 'estridentes', mas não apresenta uma diferença extrema a ponto de
dificultar ou impossibilitar completamente o diálogo do Lula. Mas, é claro, ele
vai precisar ser muito objetivo, além de pensar e construir pautas de consenso
para que o Congresso não atrapalhe o seu governo e não se torne um adversário
de seu governo", afirma o professor.
Em entrevista em 14 de outubro, Bolsonaro disse que Lula
não teria governabilidade caso fosse eleito. "Na Câmara são uns 300
parlamentares mais à direita, que vão estar afinados e vão votar propostas que
nós já discutimos", afirmou.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia dito
em 6 de outubro que o Congresso eleito seria uma "continuidade do governo
Bolsonaro". "Deixou uma mensagem muito forte para todos os
brasileiros, da tendência do encaminhamento que a população quer para os
próximos quatro anos: um Congresso de centro-direita, reformador e conservador,
dando norte para o caminho que já está asfaltado", afirmou.
Neste domingo, após a eleição de Lula, ele afirmou que
"a vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser
contestada".
No pronunciamento, o parlamentar disse que "as urnas
já haviam falado em 2 de outubro passado, no primeiro turno, quando apontou
que quer um Brasil no caminho das reformas, de um Estado menor e mais
eficiente. Esse recado foi dado e deverá ser levado a sério".
Fonte: R7
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