No mundo ideal, o novo governo de Luiz Inácio Lula da
Silva certamente gostaria de ver um outro nome que não Arthur Lira (PP-AL) no comando da
Câmara dos Deputados. Na vida real, porém, o PT já teve experiências amargas no
passado que recomendam fortemente que aceitem tomar agora a ducha fria da
realidade. A reeleição de Arthur Lira, por pior que ela seja, é hoje quase uma
constatação da realidade tão forte como a certeza de que o sol vai nascer
amanhã quando terminar a noite.
Como
mostrou Edson Sardinha no Congresso em Foco, a federação PT/PSB/PCdoB/PV deverá
oficializar seu apoio à reeleição de Arthur Lira. Não porque ache a condução de
Lira no comando da Câmara maravilhosa. O deputado de Alagoas foi ponta de lança
no apoio ao governo de Jair Bolsonaro. Sentou em cima de todos os pedidos de
impeachment. Apoderou-se da chave do orçamento secreto. Mas ele muito
provavelmente venceria a eleição para continuar na Câmara em fevereiro com ou
sem o apoio da federação que ampara o novo governo.
Assim,
a prudência recomenda não brigar com Arthur Lira. Até pelo que o PT já viu
acontecer no passado quando quis brigar com a realidade. Em 2005, o PT no
primeiro governo Lula tinha tanta certeza do seu poderio que lançou não apenas
um, mas dois candidatos à Presidência da Câmara. O deputado Virgílio Guimarães
(MG) resolveu à época enfrentar o nome oficial do partido, que era Luís Eduardo
Greenhalgh (SP). Os dois acabaram perdendo a eleição para o improvável Severino
Cavalcanti (PP-PE). A vitória de Severino marcou o início da ascensão do
Centrão ao comando da Câmara. Severino foi breve, colhido pelo episódio do
mensalinho. Mas a Câmara nunca mais foi a mesma depois disso.
Em
2015, reeleita Dilma Rousseff, ela resolveu lançar o petista Arlindo Chinaglia
(SP), ignorando que o PMDB era seu aliado e o partido de seu vice-presidente
Michel Temer. Chinaglia perdeu a eleição para Eduardo Cunha (na época no PMDB
do Rio, agora filiado ao PTB). Eduardo Cunha infernizou a vida de Dilma. No
comando do Centrão, inviabilizou o seu governo. Não permitiu a ela que nada de
importante que ela propunha passasse. Jogou o governo numa imensa crise, que
terminou quando ele desengavetou o pedido de impeachment contra Dilma.
Lula
chega ao governo pela terceira vez em um quadro muito parecido com a da
reeleição de Dilma. Sua vantagem para Jair Bolsonaro foi ainda menor que a
vantagem de Dilma sobre seu adversário, Aécio Neves (PSDB-MG), que já tinha
sido muito apertada.
Lula
nem tomou posse ainda e já depende da boa vontade de Arthur Lira para aprovar a
PEC da Transição. Terá outros embates ao longo do seu governo com a turma
bolsonarista de verde e amarelo bufando no seu cangote em acampamentos em
frente aos quarteis e em rodovias bloqueadas. Lula enfrentará a novidade da
militância contra ele. E uma militância violenta, disposta a tudo.
É
evidente que Arthur Lira não é o presidente da Câmara dos sonhos de Lula. É
evidente que Lula muito provavelmente gostaria de pegar de volta a chave do
cofre do orçamento (e reza agora para que o Supremo Tribunal Federal a
devolva). Mas Lula não tem saída. Arthur Lira é uma realidade. Como o sol que
vai nascer amanhã.
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