De ontem para hoje, Lula cometeu erros crassos sobre
finanças públicas, típicos dos momentos mais arcaicos do PT. Suas tiradas
populistas assustaram os mercados: a Bolsa caiu 3,35% e o dólar encostou nos
5,40 reais, com depreciação de mais de 4%. Os mercados tinham razão para o
nervosismo.
De fato, na quarta-feira, 9,
Lula repetiu um velho e equivocado aforisma do partido, pelo qual “saúde e
educação são investimento e não gasto”. Hoje, ele escalou. “Por que as pessoas
são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal do
país? Por que falam toda hora que é preciso cortar gasto, é preciso fazer
superávit, é preciso fazer teto de gasto. Por que as mesmas pessoas que
discutem com seriedade o teto de gastos, não discutem a questão social desse
país”, enfatizou.
Mesmo que fosse certo, o fato
de considerar gasto como investimento não muda sua natureza. Gasto independe de
rótulos. Paradoxalmente, Lula promete uma política fiscal responsável. As duas
coisas não combinam. Gasto sem fonte de receitas resulta em déficit financiado
com dívida. E dívida é dívida, precisa ser paga. Se os gastos crescem sem
controle e sem fonte de receita, a consequência inevitável é o aumento da
dívida.
Por isso, a estabilidade fiscal
é fundamental. Sem ela, a dívida cresce explosivamente, sinalizando o risco de
insolvência do Tesouro, que significa impossibilidade de pagar principal e
encargos financeiros. O efeito imediato seria uma crise de confiança no país, o
que pioraria a percepção de risco, acarretaria fuga de capitais, elevaria os
juros futuros, pressionaria a taxa de câmbio e provocaria inflação alta e
descontrolada.
As falas irresponsáveis de
Lula começam a abalar a crença dos que, como este escriba, apostam que ele vai
repetir o pragmatismo que demonstrou em 2003, quando convidou Henrique
Meirelles para presidir o Banco Central, aprovou a equipe de economistas
liberais e experientes que assessorariam o ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, e abraçou o tripé macroeconômico que herdou do presidente Fernando
Henrique, caracterizado por austeridade fiscal, câmbio flutuante e metas para a
inflação.
Lula faria bem a si, ao seu
futuro governo e ao país se deixasse de fazer afirmações mal pensadas que
possam destruir a confiança de que o Brasil precisa para sair da armadilha de
baixo crescimento. O livre pensar do presidente eleito pode tornar impossível
discutir e enfrentar a grave situação fiscal deste e dos próximos anos. Seria
um desastre.
Fonte: Veja
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