Em apenas duas semanas desde o desfecho das eleições,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu derrubar grande parte das esperanças
de que seu governo vá adotar uma política econômica racional e socialmente
responsável.
Sem nenhum ato concreto que indique algum plano de ação
até o momento, o petista e seu entorno apenas fizeram saber que planejam propor
uma emenda à Constituição capaz de liberar uma gastança sem precedentes nem
contrapartidas ao longo do mandato.
Como se não fosse ruim o bastante, Lula abraçou a
demagogia mais rasteira ao vociferar contra “a tal da responsabilidade fiscal”,
ao posar de único preocupado com a pobreza no país e ao resmungar contra a
previsível reação negativa dos mercados financeiros.
O presidente eleito parece não ter aprendido que
responsabilidade fiscal é responsabilidade social. Se colocar em prática seu
falatório, a sangria dos cofres do Tesouro não tardará a alimentar a inflação,
que mal deixou o patamar de dois dígitos, os juros —já estratosféricos hoje— e
a dívida pública.
Pior, resultará, como se viu no final da passagem do PT
pelo Palácio do Planalto, em colapso do crescimento econômico e escalada do
desemprego, da miséria e da fome que se promete combater.
Se é fundamental manter a transferência direta de renda
às famílias miseráveis, não é menos imperativo planejar como essa e outras
despesas serão sustentadas no futuro.
Lula deseduca ao tentar fazer crer, em um primarismo
atroz, que governos só controlam gastos por não se importarem com os pobres. Do
mesmo modo, fala em metas de crescimento econômico, como se isso estivesse ao
alcance de uma canetada do presidente.
Ao contrário, tolices desse calibre põem em risco a
retomada da atividade e do emprego, que surpreendeu positivamente neste ano.
Como o governo Dilma Rousseff desenhou para todo o país, irresponsabilidade
orçamentária é o caminho mais curto para a estagflação.
As contas públicas são deficitárias hoje, à diferença do
que ocorria há duas décadas. O cenário externo pós-pandemia, com alta de
inflação e juros nas principais zonas econômicas, além da guerra na Ucrânia, é
dos mais hostis.
Não há margem para erro e improviso. Providências e
compromissos sólidos devem ser apresentados desde já, a começar pelos nomes dos
responsáveis pela política econômica. Ou Lula se arriscará a perder o apoio
obtido de políticos e especialistas sérios.
A pretendida PEC da gastança acabou adiada para a próxima
semana, o que, na melhor hipótese, pode ser um sinal de recuo à sensatez. De
mais certo, o que se tem até aqui é um mau começo.
Folha de S. Paulo
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