As Forças Armadas soltaram uma nota pública mais
cedo com alguns recados importantes. O
primeiro deles é para Alexandre de Moraes baixar o tom e recuar em sua ofensiva
contra quem quer que opine ou mesmo questione o processo eleitoral, o que
inclui outras autoridades, jornalistas e cidadãos comuns.
Afinal, como ressalta o trecho da lei nº 14.197, de 1º de
setembro de 2021, reproduzida na nota, “não
constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a
atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de
passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma
de manifestação política com propósitos sociais”.
Os protestos, porém, não podem exceder os limites
constitucionais, romper cadeias de abastecimento, subverter o Estado
Democrático de Direito ou mesmo impedir o direito de ir e vir de outros
cidadãos. A regra vale para
manifestantes que bloqueiam estradas com caminhões, pedras ou fogueiras, o que
inclui os bolsonaristas de hoje e os petistas de ontem.
“Assim, são condenáveis tanto
eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto
eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos
individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como
quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que
alimentem a desarmonia na sociedade”, explicam, didaticamente, os
comandantes militares.
Na nota, há também um duro
recado ao Congresso, que tem se omitido deliberadamente na atual crise, optando
por assistir de camarote — com as burras cheias de orçamento secreto — ao
vilipêndio diário da Constituição. É urgente que homens e
mulheres que lideram nossas instituições retornem aos seus escaninhos,
garantindo a autonomia e a harmonia dos Três Poderes.
Está no texto assinado pelos
comandantes:
“A solução a possíveis controvérsias
no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado
democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a
manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo
Povo, o exercício do poder que ‘Dele’ emana, a imediata atenção a todas as
demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das
atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição
Federal e da legislação.
Da mesma forma, reiteramos a
crença na importância da independência dos Poderes, em particular do
Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da
população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir
possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em
risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.“
Os três generais também enviam mensagem às próprias
fileiras militares, numa autocrítica tardia, mas oportuna, após excessos no uso
político da caserna pelo ainda presidente. “Temos
primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos
subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo.
O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de
Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e
em seu pacífico e admirável Povo.”
O bolsonarismo esgarçou o
tecido institucional, mas o petismo — ou qualquer outro movimento, partido ou
sujeito — não está autorizado a rompê-lo. Não há espaço para vendetas. O povo
está com fome e não é de vingança.
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