Há, neste momento, um problema grave na pecuária
cearense, que é o mesmo que castiga a dos demais estados produtores de leite
bovino: o aumento da produção com a queda do consumo.
Há mais oferta de leite do que a capacidade instalada da indústria para beneficiá-lo. Resultado: o preço pago pelas industriais aos produtores está sendo reduzido.
Ao mesmo tempo, para evitar o desperdício do que sobra, a
indústria e os lacticínios artesanais estão a produzir mais queijos.
Esta coluna pode informar que a Betânia Lácteos – hoje
denominada Alvoar, fruto de sua fusão com a mineira Embaré – tem planos de
produzir queijo muçarela, o preferido de 10 entre 10 pizzaiolos do Ceará e do
resto do país.
Mas isso exige investimento, e investir agora, no
instante em que o país se prepara trocar o governo, é dar um tiro no escuro ou
no próprio pé.
Mas há outro sério e crescente gargalo, que é a livre
entrada de queijo vindo de vários estados do Nordeste e do Norte,
principalmente do Pará.
“Esse queijo vem no bagageiro dos ônibus ou no
porta-malas de automóveis, é descarregado na Praça São Sebastião e daí é
distribuído para o comércio de Fortaleza, incluindo supermercados, sem qualquer
inspeção sanitária, o que quer dizer que a saúde da população cearense está em
risco”, como denuncia um laticinista.
Há uma saída à vista: a exportação, mas esta é uma
alternativa que não prospera, uma vez que há lobbies nacionais e estrangeiros
contrários à ideia.
Não obstante, a Alvoar – ou seja, a Betânia e a Embaré –
esforça-se no sentido de obter do Ministério da Agricultura autorização para
exportar seus produtos, principalmente o leite em pó, em cuja produção a
Betânia investiu em sua unidade fabril de Morada Nova, considerada a mais
moderna do país, inaugurada em outubro do ano passado.
O presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios do
Ceará, José Antunes Mota, que, com a marca Cambi, produz queijo de cabra,
queijo coalho, requeijão e queijo curado, diz à coluna que, “realmente, há uma
superprodução de leite bovino, algo que a indústria não tem como absorver
diante de sua hoje limitada capacidade de beneficiamento”.
De Lisboa, onde se encontra, o agropecuarista Luiz Girão,
fundador do Grupo Betânia, transmite uma informação, obtida de “pessoas que
circulam muito perto de Elmano Freitas”, segundo a qual o governador eleito
está muito interessado em incentivar a pecuária leiteira nos assentamentos do
MST e nas áreas da agricultura familiar, pois é uma atividade que pode gerar
renda e trabalho, desde que seja oferecida assistência técnica aos
assentados.
“É uma boa ideia e vamos esperar que ela avance”, diz
Girão.
Na cadeia produtiva do leite – é o que esta coluna ouviu
ontem de dois produtores e de um laticinista – “só quem não perde dinheiro é o
supermercado”, e esta assimetria não contribui para o encaminhamento da solução
da questão.
Todavia, todos concordam que a rede comercializadora do
leite e seus derivados – da qual o supermercado é peça essencial – deve ser
preservada, pois é por meio dela que a produção ou a superprodução é
escoada.
Luiz Girão sugere que se unam a Federação da Agricultura
do Ceará (Faec), os produtores e a indústria de leite para a promoção de uma
campanha que motive o cearense a consumir queijo e outros lacticínios do
Ceará.
O presidente da Faec, Amílcar Silveira, revela que, há
alguns meses, a entidade promove, com os organismos competentes do governo, um
esforço no sentido de qualificar as queijarias do Vale do Jaguaribe, que
alcançaram um grau relevante de tecnologia.
“Elas ganharão o selo de qualidade da inspeção sanitária,
primeiro passo para que os produtos de todo o setor alcancem o nível de
confiabilidade que desejamos”, diz Silveira.
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