Após declarar voto no então candidato à presidência Luiz
Inácio Lula da Silva, Arminio Fraga admitiu preocupação com os rumos do novo
governo na área econômica. O sentimento foi relatado em entrevista concedida ao
jornal Folha de S. Paulo.
“Tenho sido cuidadoso com o pouco que falo e escrevo,
esperando posicionamentos do ministro Fernando Haddad e de seus
parceiros na economia para, então, fazer uma análise mais embasada”, afirmou o
ex-presidente do Banco Central. “Mas há no ar sinais de que as coisas podem
desembocar em outro desastre econômico, e isso de fato me preocupa”, relatou o
economista ao jornal.
Ele afirma que não se arrependeu do seu voto nas eleições
de outubro – motivado pela preocupação com a manutenção da democracia no País.
“foi um voto muito mais político do que econômico”, disse.
No entanto, Fraga reconhece que os sinais dados até agora
sinalizam para um modelo bem diferente do adotado no primeiro mandato de Luiz
Inácio Lula da Silva – o melhor entre as gestões do PT, na avaliação do
economista.
“Não dá para ser seletivo e escolher apenas a parte que
deu certo [nas gestões passadas]”, pontua. “Depois do [Antônio] Palocci
(ministro da Fazenda entre 2003 e 2006), a estratégia [do PT] mudou
radicalmente — e foi esse erro que desembocou no colapso da economia”, diz.
Na avaliação de Fraga, o buraco fiscal do País começou em
2014 e 2015. Segundo ele, a crise econômica que veio a seguir foi um colossal
colapso de confiança. Hoje, parte da herança que o presidente Lula recebe veio
dele próprio, afirma ao longo da entrevista.
Diante da análise, ele sugere uma autocrítica do PT e
recomenda ao partido – do atual presidente da República – aprender com os erros
do passado.
“Mesmo que não se ajoelhe no milho e se faça um mea-culpa
—dificilmente um político faz esse tipo de coisa—, seria bom que se mostrasse
através da prática que as lições foram aprendidas”, pontua Fraga à Folha de
S.Paulo.
Como exemplo de medidas que geram preocupação, Fraga cita
mudanças no marco do saneamento, revisão na Lei das Estatais e o uso indevido
dos bancos públicos e da própria Petrobras.
Ao jornal, o economista sinalizou descontentamento também
com a prorrogação da desoneração dos combustíveis. Ao tomar posse, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter a isenção de tributos
federais sobre os combustíveis (PIS/Cofins e Cide).
Fraga reconhece a preocupação com a pressão
inflacionária, mas lembra que a volta do imposto seria positiva do ponto de
vista fiscal.
“Colocando tudo na balança, eu acho que teria sido melhor
a volta plena do imposto”, avalia.
Sobre a equipe econômica, o ex-presidente do Banco
Central é cauteloso. Diz preferir dar uma chance às pessoas escolhidas por
Haddad e respeitar as pessoas que estão no ministério da Fazenda.
Ele ainda elogia a iniciativa do ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, de reduzir o déficit primário deste ano, mas diz esperar
medidas de longo prazo que vão sinalizar o que é mais importante para o atual
governo.
Fonte: InfoMoney
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