Há um conflito de interesses dividindo os produtores de
leite do Ceará e a indústria de beneficiamento. O motivo da divergência é o
preço pago pelos industriais aos que, de pequeno, médio ou grande porte, lhe
fornecem a matéria-prima para a produção de lácteos.
Os produtores divulgaram na tarde desta segunda-feira um
comunicado a que deram o título de “Manifesto dos Produtores de Leite do Ceará
– Balde Cheio, Bolso Vazio – Não podemos ficar de braços cruzados”, convocando
uma manifestação para o próximo dia 4 de fevereiro, um sábado, em frente à
fábrica da Betânia, na cidade de Morada Nova, no Sertão Central do Estado.
O comunicado diz:
“Diante das seguidas
e injustificáveis reduções no preço do leite, que vem causando graves prejuízos
aos produtores e impactando negativamente na economia dos municípios, os
produtores de leite de todo o Ceará realizarão na manhã do próximo dia 4 de
fevereiro de 2023 manifesto de protesto em frente à sede da Betânia Lácteos no
município de Morada Nova”.
Os produtores afirmam ainda que as reduções no preço do
leite e o alto custo de produção estão inviabilizando a atividade. E
acrescentam que o movimento visa “resgatar o direito de seguirmos produzindo
com dignidade, e a presença de cada um de nós no dia 4 de fevereiro é
imprescindível”.
Esta coluna ouviu o acionista e CEO da Betânia
Lácteos, Bruno Girão, que transmitiu as seguintes informações:
3) No ano passado de 2022, a Betânia aumentou em 18% o volume de leite captado no Ceará e incrementou o preço pago ao produtor, que subiu 22% em relação ao ano anterior de 2021. “O maior valor pago no Nordeste por uma indústria de beneficiamento”, como ressaltou Bruno Girão;
4) A recente implantação de uma fábrica de leite em
pó em sua planta industrial de Morada Nova teve o objetivo estratégico de
assegurar a captação do excesso de leite produzido no Ceará;
5) Com o mesmo
objetivo de assegurar a aquisição do leite produzido aqui, a Betânia está,
neste momento, elaborando um novo projeto de ampliação de sua unidade de
produção de queijos, incluindo o muçarela, muito utilizado pelas pizzarias e
restaurantes de Fortaleza e das demais cidades cearenses. As obras dessa
ampliação serão iniciadas ainda neste ano.
O presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios do
Ceará, José Antunes Mota, confirmou as informações transmitida à coluna pelo
CEO da Betânia, afirmando:
“A Betânia paga ao produtor de leite o melhor preço
do Nordeste”. E adicionou um detalhe importante:
“Hoje, a pecuária
cearense, como a do Nordeste todo, melhorou muito sua genética. Antigamente,
dizia-se que o gado leiteiro só produzia quando havia boas chuvas para fazer
crescer o pasto. Mas isso não é mais assim: nas boas vacarias, o rebanho vive
confinado, com nutritiva alimentação e boa condição de repouso, e isso faz com
que a produção por animal chegue de 30 a 40 litros/dia.”
Por sua vez, o presidente da
Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), Amílcar Silveira, que na manhã
desta segunda-feira, 30, se reuniu com Bruno Girão, disse à coluna que, ao
mesmo tempo em que ele e sua entidade estão a favor dos pequenos produtores
rurais, defendendo seus interesses, trabalha também para que as duas partes
encontrem um caminho convergente que conduza ao bom entendimento.
Na sua opinião, “a Betânia
precisa de melhorar seu relacionamento com os produtores cearenses, algo que a
Embaré faz muito bem em Minas Gerais com os seus fornecedores”.
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