Um dia antes da depredação das sedes dos Três Poderes, em
Brasília, a Polícia Federal já tinha conhecimento de que de simpatizantes de
Jair Bolsonaro planejavam “atos antidemocráticos”
e “ações hostis e danos” ao “Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o
Supremo Tribunal Federal“. As informações, colhidas pelo
departamento de inteligência da PF, foram detalhadas ao ministro da Justiça,
Flávio Dino, num ofício a que O GLOBO teve
acesso.
O texto revela que os investigadores identificaram “indivíduos dispostos a enfrentar as forças de
segurança para tentarem tomar o poder”. Cerca de 20 horas após o
comunicado, enviado a Dino às 18h23, as primeiras pedras eram atiradas na sede
do Legislativo, o primeiro alvo do grupo. O documento é assinado pelo
diretor-geral da PF, delegado Andrei Passos.
O diretor-geral da PF informou ao ministro a chegada a
Brasília de “dezenas de ônibus” de São Paulo,
Goiás, Santa Catarina, Minas Gerais e do próprio Distrito Federal. O documento
deixa claro o potencial de risco da empreitada golpista ao mencionar que
haveria homens “armados fazendo a segurança dos manifestantes”. Parte do plano
foi descoberto em mensagens trocadas pelos bolsonaristas em redes sociais e
aplicativos de bate-papo monitorados pelos investigadores.
O comunicado antecipa exatamente o que ocorreria horas
mais tarde, no seguinte trecho: “A maioria desses
manifestantes encontra-se concentrada próximo ao Quartel General do Exército, e
há informações de que teriam a intenção de se deslocar até a Esplanada dos
Ministérios entre hoje (07/01/2023) e amanhã (08/01/2023) e lá prosseguir com
os atos antidemocráticos“.
Andrei Passos alertou Flávio Dino para a possibilidade de
“recrudescimento dos atos e comprometimento da
estabilidade na segurança pública do Distrito Federal“. Escreveu
ainda que parte dos participantes do movimento golpista citavam como motivação
“impedir a instalação do comunismo no Brasil”.
O diretor-geral da corporação adianta que, horas antes,
havia participado de uma reunião com integrantes do governo do DF sobre o
planejamento do esquema de segurança que seria implementado no dia seguinte.
Parte dessas autoridades virou alvo de um inquérito aberto pelo STF para apurar
suspeita de omissão, com objetivo de facilitar a ação dos golpistas.
Nessa investigação, o ministro do STF Alexandre de Moraes
determinou as prisões do ex-secretário de Segurança Anderson Torres e do
ex-comandante da Polícia Militar Coronel Fábio Augusto Vieira. O magistrado
também determinou o afastamento do cargo do governador Ibaneis Rocha por 90
dias.
A atuação de Flávio Dino também foi criticada, embora a
grande parte do esquema de segurança fosse de atribuição do governo local. A
Força Nacional de Segurança, que está sob o guarda-chuva do Ministério da
Justiça, mobilizou apenas 140 homens para conter os ataques, de um efetivo de
500 agentes.
ABIN
Conforme mostrou O GLOBO, a
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou as forças de segurança do
Distrito Federal de que o grupo que estava a caminho de Brasília com o objetivo
de depredar o patrimônio público e promover atos violentos nas sedes dos Três
Poderes. Os alertas da Abin, feitos também na véspera dos ataques, foram
intensificados na manhã de 8 de janeiro, dia da invasão.
Fonte: O Globo
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