A eleição acabou e o presidente da República se
chama Luiz Inácio Lula da Silva. Parece que ele não foi avisado. Pode e
deve descer do palanque rumo à pacificação social que prometeu. Faz, no
entanto, o movimento inverso, repetindo os vícios do petismo.
Na cerimônia de posse do BNDES, o presidente contou duas
mentiras. A primeira é que Cuba e Venezuela não devolveram ao Brasil o dinheiro
do empréstimo feito pelo BNDES porque o ex-presidente Jair
Bolsonaro cortou relações com os dois países. É mentira e Lula sabe.
Os atrasos começaram em 2018, ainda no governo Temer,
muito antes que Bolsonaro assumisse. Se a postura de isolamento do
ex-presidente é o que impedia a cobrança, passou da hora de fazer a cobrança
agora que o presidente mudou.
A outra mentira é que a violência no dia 8 de janeiro se
deveu à revolta dos ricos que perderam a eleição para ele, Lula, legítimo
representante dos pobres. Caso fosse verdade, seria o maior sucesso mundial em
redistribuição de renda. Em pouco mais de um mês, Lula teria produzido mais de
58 milhões de ricos no Brasil.
Ele sabe que teve apoio dos ricos brasileiros, de vários
deles com declarações individuais, do setor bancário, industrial. Até carta dos
mais famosos economistas brasileiros apoiando Lula a gente viu. É esse o
pessoal que está contra ele?
Mentir, para político brasileiro, é o de menos. Fazem
isso todos os dias. Pobres dos procuradores da AGU lotados no novo serviço de combate
à desinformação sobre ações públicas do Governo Federal. Além dos devaneios dos
aloprados bolsonaristas, agora têm na mira os discursos do próprio presidente
da República.
O pior, para mim, é jogar gasolina no fogo de um país que
está com seu tecido social esgarçado. Lula prometeu na eleição que faria a
pacificação nacional e seria o presidente de todos os brasileiros. Se você me
acompanha, já sabia desde o lançamento da candidatura que isso não aconteceria.
O presidente da República sempre colheu frutos suculentos
do divisionismo social e do discurso do “nós x eles”. Por que abriria mão disso
quando encontrou o contraponto perfeito, Jair Bolsonaro?
Fazer esse discurso contra políticos razoáveis é mais
difícil. O petismo precisou pintar Geraldo Alckmin como nazista. Até Marina
Silva foi chamada pelos mais empolgados de “mãe do fascismo brasileiro”. Muito
melhor o bolsonarismo. A maior parte do que você disser sobre eles, por mais
exagerada que pareça, vai ser verdade mesmo.
O truque que Lula repete com maestria é colocar no balaio
do bolsonarismo e da extrema-direita qualquer um que o questione. É uma das
formas mais eficientes de incentivar na sociedade o tipo mais burro de
binarismo.
Os luloafetivos vão repetir o que faz seu ídolo, porém
com muito mais agressividade, sobretudo nas redes sociais, onde agem em bando.
Retratar como extrema-direita ou golpista qualquer um que criticar Lula se
torna um esporte para os Che Guevaras de apartamento. Vez ou outra isso vai
parar na imprensa.
Escolhem uma vítima por dia e vão todos para cima dela.
Nem precisam do trabalho de criar argumentos, basta xingar bastante e inventar
histórias que assassinem a reputação da pessoa. Exercitam o prazer de maltratar
os outros e ainda fingem que é por causa de algo nobre, o debate político que
jamais fazem.
Os bolsomínions usam os ataques para vestir a farda do
vitimismo. Nunca são eles os atacados, sempre é alguém moderado. As vítimas dos
dois grupos são sempre as mesmas, aquelas que são contra a polarização tóxica.
Ocorre que os ataques, sua ferocidade e a argumentação
autoritária do petismo serão argumentos para a ideia de que o Brasil está
acabando. E, diante do desespero, só nos resta recorrer a alguém como
Bolsonaro. Enquanto isso, ele permanece exilado na Disney.
Lula teve e tem a oportunidade de fazer um governo de
excelência, que pacifique o Brasil e nos coloque num caminho como nação. Optou
por mais do mesmo: acordos com o centrão fisiológico e discurso divisionista
incendiário. Os grupos populistas ganham com isso. Infelizmente, o Brasil
perde.
Fonte: Madeleine Lacsko, Colunista do Uol.
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