Lula vem dobrando sua aposta de enfrentamento ao mercado
financeiro. Tem tudo para perder, basta observar o cordão de isolamento que vem
se formando para preservar a independência do Banco Central, atual alvo
preferencial do presidente eleito.
A tática do governo é politizar o debate econômico, por
já antever que 2023 não será um ano fácil — na hipótese mais provável, a
inflação passará do trote ao galope nos próximos meses, mesmo com as boas
perspectivas de exportações e balança comercial.
Não há contradição nenhuma em vermos taxas elevadas de
juros (as maiores do planeta, novamente) em um cenário macroeconômico nebuloso,
já que o presidente ainda não sinalizou com clareza qual seu projeto de
crescimento sustentável para o país. Estamos à deriva, até os mais otimistas
são obrigados a reconhecer.
Ao escolher Roberto Campos Neto como adversário, em campo
aberto, Lula faz um jogo velho e arriscado: personificar e fulanizar (no
presidente do Banco Central, “esse cidadão”, um suposto inimigo do país. Não
vai dar certo, já é visível.
As últimas declarações do presidente mal escondem um
certo desespero. A questão da independência do BC é jogo jogado, não há como
mexer nesse fato, e Lula sabe disso quando a define como “uma bobagem”. É um
blefe retórico.
Ao criticar duramente a política monetária do banco e
chamar de “vergonha” a manutenção da Selic em 13,75%, o pretenso estadista age
com fanfarronice. É oração para uma militância já convertida e um insulto aos
agentes econômicos ocupados em fazer a economia girar.
Lula criou uma armadilha para si próprio. Não tem como
descer do palanque com as mãos vazias. Tudo indica que teimará em permanecer em
cima de um caixote nos anos 80 do século passado.
Seus ataques aos “mais ricos” (que seriam, inclusive, vejam
só, os responsáveis pelos crimes cometidos por uma multidão em 8 de janeiro), não passam de uma requentada “luta de classes” ou do maléfico “nós contra eles”
— que de nada servirão para baixar juros, conter a inflação ou distribuir
renda.
Gerir a economia brasileira sempre foi uma tarefa
dificílima. Lula toca sua trombeta e coloca o bode no meio da sala para ter uma
desculpa se tudo der errado. Só que todo mundo já percebeu. Esse truque é
velho.
Fonte: R7
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