A cidade de Mossoró, na região Oeste do Rio Grande do
Norte, foi considerada a cidade mais violenta do Brasil, de acordo com o
ranking elaborado anualmente pela organização não governamental mexicana
Seguridad, Justicia y Paz (Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça
Penal). A capital do Oeste ocupou a 11ª posição na lista das 50 cidades com
mais assassinatos por 100 mil habitantes do Mundo em 2022, sendo o município
brasileiro com maior destaque negativo. Natal também apareceu na lista na
posição 28ª do Mundo e na 6ª entre as brasileiras. Em contrapartida, a
Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed/RN) alega que
Natal e Mossoró têm redução de 48% e 15% em total de mortes violentas nos
últimos 4 anos.
Contudo, de acordo com o estudo da Seguridad, Justicia y
Paz, Mossoró registrou 167 homicídios em todo o ano de 2022, o que corresponde
a quase uma morte violenta a cada dois dias ou a uma taxa de 63,21 homicídios
por 100 mil habitantes. Já a capital potiguar teve uma taxa de 45,06 homicídios
por 100 mil cidadãos.
O especialista em segurança pública e sociólogo, Francisco Augusto Cruz, diz
que um dos fatores que podem explicar o elevado índice de violência nas cidades
potiguares é a atuação das facções criminosas na disputa por territórios para o
tráfico de drogas. “Ainda não há uma articulação suficiente para o combate às
articulações criminosas, as facções. Essas organizações ainda conseguem
crescer, se expandir com o uso da violência no Rio Grande do Norte, o que é um
grande problema. Esse é um dos problemas do México também, que é o país com
mais regiões no ranking”, analisa.
Ele destaca que a própria ONG que elaborou o estudo faz uma crítica ao modelo
de gestão das polícias, de controle policial. “Me parece que é uma situação
muito parecida com a que temos no Rio Grande do Norte”, destaca Cruz. Das 50
localidades consideradas mais violentas em todo o Mundo, 10 ficam no Brasil e
17 no México, país com o maior número de cidades violentas no ranking: 17 de
50. Colima, localizada no México, se tornou a cidade mais violenta do
mundo com uma taxa de 181,94 homicídios por cem mil habitantes em 2022.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com o atual chefe da Secretaria de
Estado de Segurança Pública e Defesa Civil (Sesed), coronel Francisco Araújo,
que afirmou não ter conhecimento do estudo e, por isso, iria analisar o
levantamento para se pronunciar posteriormente. A TN tentou contato com a
Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminas (Coine/Sesed),
mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
Em nota, a Secretaria de Segurança garante que o Rio Grande do Norte tem
registrado reduções significativas nos índices de violência e criminalidade.
“Quanto às Condutas Violentas Letais Intencionais, os chamados CVLIs, houve
queda em Natal e em Mossoró, ou seja, diminuição da violência nas duas maiores
e principais cidades do Estado”, reforça a Sesed/RN.
O comunicado faz um comparativo da atual gestão com a
anterior, mas não menciona o estudo da ONG mexicana. “Na capital potiguar,
comparando os últimos quatro anos com os quatros anos da gestão anterior, a
diminuição foi de 48,3%. Já em Mossoró, a redução foi de -15,6% no mesmo
período. Na série histórica das CVLIs, tratando de números absolutos, na
capital potiguar foram registradas 2.166 mortes violentas letais intencionais
entre os anos de 2015 e 2018. Já entre 2019 e 2022, foram 1.120 ocorrências, o
que representa a queda de 48,3%. Em Mossoró, entre 2015 e 2018, foram 871
CVLIs, contra 735 registros da mesma natureza ocorridos entre 2019 e 2022, o
que representa a redução de 15,6%”, informa a Secretaria.
Especialista aponta disputa entre facções
Em primeiro lugar no ranking mundial de vítimas por 100
mil habitantes está Colima com uma taxa de 181,94 por 100 mil cidadãos; seguido
por Zamora, com 177,73 homicídios; Ciudad Obregón em terceiro lugar, com
138,23; e o quarto lugar, Zacatecas, com uma taxa de 134. O parâmetro utilizado
pela pesquisa da organização não governamental mexicana Seguridad, Justicia y
Paz é o homicídio.
O sociólogo Francisco Augusto Cruz diz que, neste contexto, este tipo de crime
está ligado às disputas de facções criminosas. “De forma geral esses homicídios
são resultados de vinganças, acertos de conta, dívidas, desentendimentos.
Geralmente as localizações desses homicídios são em locais periféricos pouco
assistidos pela Polícia. A gente precisa fazer uma análise de como está sendo a
estratégia de policiamento desses bairros mais violentos de Natal e Mossoró.
Geralmente são bairros sem a presença do Estado”, comenta.
Além de Mossoró (11º) e Natal (28º), outros oito municípios aparecem entre os
mais violentos do Mundo em 2022. Com exceção de Manaus, todos ficam na região
Nordeste: Salvador/BA (19º); Manaus/AM (21º); Feira de Santana/BA (22º);
Vitória da Conquista/BA (26º); Fortaleza/CE (31º); Recife/PE (35º); Maceió/AL
(36º); Teresina/PI (41º). Não é a primeira vez que cidades potiguares são
protagonistas negativas da violência a nível mundial. Na lista das 50 cidades
mais violentas do Mundo em 2021, Mossoró e Natal ocuparam as posições 20º e
33º, respectivamente.
Francisco Augusto Cruz analisa que a melhora do cenário passa por uma reorganização
das polícias do Estado e parcerias com os municípios. “Precisa montar uma
estratégia combativa às facções em parceria com as prefeituras. São os
prefeitos que sabem o funcionamento da cidade, que sabem para que lado a cidade
se desenvolve, para que lado a pobreza se expande. Não que a pobreza seja uma
condição para a existência do mundo do crime, mas a criminalidade se apropriou
da pobreza para poder se expandir porque se aproveita de um contexto de
desemprego, fome, crise econômica”, diz.
Tribuna do Norte
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