O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros,
ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
ex-ministro das Comunicações no governo FHC e ex-diretor do Banco Central (BC),
acredita que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passa por um acelerado
desgaste dentro do governo. E qual a consequência desse processo? “Ele já era”,
afirma. Por que e como isso aconteceria é o que ele explica a seguir, em
entrevista ao Metrópoles.
O senhor diz que fatos recentes evidenciam um processo de
desgaste do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por quê?
O Haddad está enfraquecendo porque tenta construir no
governo uma política econômica que é radicalmente contra o que pensam os
economistas e os políticos do PT. Por isso, vai cair. Pode não ser agora. Mas
vai cair.
E quais são esses fatos que estariam enfraquecendo o
ministro?
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, deu
declarações dizendo que o banco não vai se calar sobre questões de política
fiscal. O presidente Lula disse que não tem pressa para fechar o arcabouço fiscal, que só vai
ver isso depois que voltar da China (no domingo, 26/3). O ministro da
infraestrutura (Renan Calheiros Filho) também disse que a nova regra fiscal
deve permitir investimentos. Além do mais, o Banco Central (BC) não vai reduzir
a taxa de básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom, cujo encontro ocorre entre terça, 21/3, e quarta,
22/3). E, hoje, o Lula já voltou a falar mal do BC. Você começa a juntar tudo
isso e percebe que o Haddad já era.
Mas o presidente do
BNDES negou que haja qualquer tipo de confronto com a
Fazenda. Citou que o banco vai realizar um seminário, no qual a
política fiscal será discutida, mais isso vai ocorrer depois da apresentação do
arcabouço.
Isso não muda nada. Mais parece que levou um puxão de
orelha. E ele disse também que vai defender uma política econômica que priorize
o crescimento, “pisando com o pé esquerdo”. Esse é o padrão.
E qual é a visão da política econômica defendida pelo PT
que não combina com as ações de Haddad à qual o senhor se referiu?
Para o PT, o importante para o crescimento é o consumo. E
se o consumo está baixo no lado privado, você o substitui pelo consumo do setor
público. Mas o importante não é isso. O fundamental é o investimento. Eu já
tenho 80 anos e posso falar certas coisas. Isso vai dar confusão como deu com a
Dilma.
O que o senhor acha da polarização em torno da
discussão fiscal, que opõe defensores de uma política
expansionista e os que pregam um controle mais severo, com um
arcabouço mais rigoroso?
Esse enfrentamento de posições é comum e sempre
aconteceu. Mas, para mim, neste momento, ninguém está certo, nem os que
defendem a expansão de gastos, nem a Faria Lima, que quer cortes.
Por que os dois lados estão errados?
O Brasil tem que ter equilíbrio na dívida pública. Isso é
básico. Ela não pode subir constantemente. Por outro lado, estamos entrando num
ciclo de crescimento muito baixo. Assim, também não está certa a turma que
tenta impor que a inflação caminhe para o centro da meta (de 3,25%, em 2023),
depois de um choque externo tão grande (com a pandemia e a guerra na Ucrânia).
E a situação está ficando complicada. Essa história de férias coletivas na
indústria é séria. E vamos ter mais uns dois meses de crescimento muito fraco.
Se os dois lados estão errados, como resolver o problema?
A melhor forma de resolver isso é fixando um superávit
primário (o resultado positivo entre todas as receitas e despesas do governo,
excetuando gastos com pagamento de juros) de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Isso teria de ser obrigatório todo ano e mostraria que o governo vai pagar um
pedaço dos juros da dívida. Pode até estabelecer que, quando o crescimento econômico
for maior, se o primário também for maior, você compensa isso lá na frente. Ou
seja, num período de avanço menor do PIB, pode fazer um primário menor ou até
um déficit.
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