O presidente Lula está cada vez mais “soberano”,
“revanchista” e “centralizador”, conforme relatos de parlamentares, ministros e
advogados próximos ao petista coletados por VEJA nas últimas semanas. Seja a
portas fechadas no gabinete presidencial, seja em declarações recheadas de
ironia feitas à imprensa, Lula dispara pitos em assessores, ignora conselhos do
seu núcleo duro – cada vez mais enxuto, diga-se – e se mantém determinado a
acertar contas com o passado, em vez de centrar energia para as reais e mais
urgentes missões para as quais fora eleito.
Um caso notório do destempero de Lula aconteceu no último
dia 14. Diante de 19 ministros e em transmissão ao vivo pela televisão, o
petista deu uma bronca, sem citar nomes, em auxiliares que estariam antecipando
o anúncio de programas federais sem antes ter o aval da Casa Civil. O trâmite
seria necessário, disse o presidente, para que “a gente possa chamar o autor da
genialidade e então anuncie publicamente como se fosse uma coisa do governo”. O
constrangimento foi geral.
Longe dos holofotes, o tom é ainda pior. Fechado em copas, Lula escuta cada vez menos os conselhos de seus auxiliares.
O
presidente não tem mais a seu lado nomes da mais estrita confiança que o
acompanhavam no primeiro mandato, como José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil,
e o ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho, figuras com quem se reunia logo nas
primeiras horas do dia para afinar o discurso e definir metas e planos.
No fim de janeiro, durante visita à Argentina e ao
Uruguai, ocorreu um caso exemplar. Em um pronunciamento, Lula atacou de
uma só vez dois ex-presidentes da República. Michel Temer foi chamado de
“golpista” e Jair Bolsonaro de “genocida” — isso depois de o petista ter
anunciado a intenção de usar recursos do BNDES para financiar a construção de
um gasoduto em solo argentino, prática que resultou no passado em rumorosos
escândalos. Nada disso estava no script. A combinação do anúncio com as
críticas aos ex-presidentes bateu o primeiro recorde de menções negativas à
época – superada agora após declarações controversas envolvendo o senador
Sergio Moro – e tirou da hibernação grupos que estavam cansados de Bolsonaro,
tinham severas críticas a Lula mas, apesar disso, votaram no petista em nome da
promessa de pacificação.
Na época, o núcleo duro do governo — formado pelos
ministros Rui Costa, da Casa Civil, Alexandre Padilha, de Relações
Institucionais, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social —
apresentou ao presidente, como de costume, relatórios de avaliação – feitos constantemente
– para mostrar o efeito negativo das declarações. Ao ouvir as críticas dos
auxiliares, ele reagiu com irritação: “Eu agora vou ter de pedir autorização de
vocês para falar o que penso? Era só o que faltava”. Ninguém, claro, disse mais
nada.
Veja.
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