Deu-se o inimaginável: de estilingue, o governo
Lula conseguiu a proeza de passar à condição de vidraça no caso do 8 de
janeiro. O Planalto caiu de ponta-cabeça no centro de uma CPI do Golpe tramada
por bolsonaristas que deveriam temer as investigações. Deve-se o paradoxo à
divulgação de um vídeo que exibe o general Gonçalves Dias, responsável pela
segurança da Presidência, circulando no meio dos invasores da sede do governo.
Em vez de dar voz de prisão aos vândalos golpistas,
Gonçalves Dias, velho amigo de Lula, abriu portas e indicou rotas de saída,
pela escada, no andar do gabinete presidencial. Lula viu-se compelido a fazer
por pressão o que deixou de realizar por opção. Com 101 dias de atraso,
empurrou o general que havia acomodado na chefia do GSI, Gabinete de Segurança
Institucional, para fora do Planalto pela porta de incêndio.
A CPI que o governo tentava evitar tornou-se
incontornável. Lula teve a oportunidade de avalizar uma investigação
parlamentar conduzida por seus apoiadores no Senado. Preferiu travar a
iniciativa. Agora, terá que se equipar às pressas para lidar com uma CPI mista
proposta pelo deputado bolsonarista André Fernandes. Esse parlamentar é um dos
investigados no inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre o Capitólio
brasiliense. É acusado de incentivar a invasão e depredação das sedes dos Três
Poderes.
Nas pegadas do 8 de janeiro, Lula havia declarado que as
portas do Planalto foram abertas para os invasores. Agora, verifica-se que o
próprio presidente ofereceu material para que a oposição invada o seu governo,
explorando a mentira segundo a qual a tentativa de golpe foi obra de petistas
uniformizados de verde e amarelo para incriminar Bolsonaro.
Em política, todo o mal começa com as explicações. Tudo o
que precisa ser explicado não é bom. Revelou-se premonitório um
prognóstico feito há mais de três meses pelo senador Renan Calheiros, aliado do
governo. Em matéria de CPI, como no futebol, “quem não faz leva.”
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