A discussão sobre a cobrança da água bruta é uma
realidade no Rio Grande do Norte. O Governo do RN, por meio da Secretaria de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), confirmou ao Jornal AGORA RN, em
entrevista nesta sexta-feira, 5, que o debate sobre a regulamentação de uma Lei
aprovada pela Assembleia Legislativa do RN, em 1996, está avançando. Chamada
popularmente de “Lei das Águas” (Lei 6.908), admitida em consonância com a Lei
Federal de 1997 (Lei nº 9.433), já determina e institui a cobrança sobre o uso
da Água Bruta em todo o estado. É definida como água bruta aquela sem
tratamento, como de rios e mananciais.
Segundo o titular da Semarh, Paulo Lopes Varella Neto, os
trâmites legais estão em discussão com diversos setores da economia sobre a
forma que será feita a regulamentação. “A cobrança da água bruta foi instituída
aqui no estado no dia 1 de junho de 1996. Quem aprovou? A nossa Assembleia
Legislativa, através de lei. Foi instituída legalmente. Todavia, ela não foi
regulamentada. O que nós estamos tratando agora, tantos anos depois? De
regulamentar esta lei, que é condição que nos cabe”, disse.
Uma das principais preocupações é quem seria o público-alvo
desta cobrança. Conforme o secretário, a cobrança virá, de forma geral, para
quem fizer o uso outorgado da água. “Vamos cobrar dos usos outorgados. Qualquer
um de nós que precisar usar água, uma indústria, o que você pensar, tem que ter
uma licença para pegar essa água, porque essa água é um bem de domínio
público”, explicou. Contudo, o titular da Semarh antecipou que haverá isenção
da cobrança para alguns setores, sobretudo para pequenos produtores. “Uma coisa
que deve ficar clara: a agricultura familiar está isenta. E está isenta por uma
razão simples: não tem poder pagador para tanto. Não seria justo”, acrescentou.
Segundo Varella, a intenção do governo é de que o impacto
seja mínimo para economia. “O impacto está sendo estudado para o ser o menor
possível. São questões de centavos por mil litros d’água. A agricultura para os
‘maiores’, na nossa proposta, era cobrar meio centavo por mil metros cúbicos. É
a proposta. Isso pode variar porque nós estamos discutindo com os setores”,
adiantou o titular da Pasta que compreende os recursos hídricos estaduais.
O secretário afirmou que o tema está sendo debatido com
cuidado dentro do Governo e que o poder pagador do usuário será respeitado na
proposta. “Estamos tentando fazer essa regulamentação considerando o poder
pagador, isentando a agricultura familiar e pequenos usuários dentro de um
limite, seja de rio, seja de poço, mas tem um limite que a pessoa não precisará
pagar”, especificou. “Nós estamos fazendo justamente para não afetar os pobres.
Nós estamos regulamentando para que isso não atinja a quem não deve atingir,
para que a gente possa ter uma participação de todos para ter uma gestão de
recursos hídricos adequada”, complementou.
Segundo Varella, o governo do RN pretende destinar as
receitas da arrecadação para a gestão de recursos hídricos, que poderá ter mais
autonomia financeira para manter as barragens do RN em um bom estado. “No
semiárido, a água é um limitante do desenvolvimento e muitas vezes nós não
temos recursos para manter nossas barragens do jeito que deveríamos ter, e
fazer os estudos necessários. É para gestão de recursos hídricos, é para isso
que devemos cobrar. É um impacto pequeno para os que vão pagar, mas quando
somar todo mundo podemos ter um mínimo de recursos para que possamos ter uma
gestão adequada”, esclareceu.
O secretário afirmou que outros estados vizinhos já têm sua
regulamentação sobre a utilização da água bruta, e que a arrecadação está
fazendo a diferença no setor de recursos hídricos na região nordeste. “O Ceará
já cobra há muito tempo. A Paraíba já começou a cobrar há uns dois a três anos.
Estão dando um show. E nós estamos ficando para trás. Pernambuco também está
começando a trabalhar para fazer essa cobrança”, justificou.
Varella deixou claro que o que se tem ainda é uma minuta, que
pode eventualmente se transformar em um decreto estadual com o final do debate.
“Não tem nenhum decreto pronto. Se tem uma minuta de um decreto, que está sendo
construído com a sociedade. Quem está nos ajudando a fazer isso? A Agência
Nacional de Águas (ANA), a inspiração dos outros estados, que já tem essa
regulamentação, e assim por diante”, explicou.
Questionado sobre as primeiras impressões do setor econômico,
o secretário confirmou que as conversas estão em fase inicial e as explicações
sobre a importância do tema será posto à mesa. “O que estamos fazendo nesse
momento é conversando setor a setor. Nós já tivemos uma primeira reunião com a
FIERN, estamos nos preparando para conversar com a Fecomércio e todos os
usuários de águas, de grande volume, para dar explicações”, finalizou.
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