Um estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas, em
parceria com o Itaú Social e a Associação D³E, revelou que um terço dos
professores das escolas públicas do Brasil dá aula para mais de 300 alunos por
ano. Esse elevado número de estudantes por turma e a carga de trabalho
excessiva dificultam a melhoria dos resultados educacionais no país.
A sobrecarga de alunos torna desafiador para os
professores identificar dificuldades pedagógicas, fazer adaptações para atender
às necessidades individuais de cada aluno e perceber situações externas que
afetam o desempenho e o comportamento dos estudantes, como violência doméstica,
abuso e abandono.
Segundo a pesquisa, a média brasileira é 50% maior do que
a de países com melhores indicadores educacionais, como Estados Unidos, França
e Japão. Os dados analisados foram coletados de professores que atuam nos anos
finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e foram obtidos a partir do
Censo Escolar e da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
O elevado número de alunos por turma é reflexo da alta
carga de trabalho imposta aos professores, tanto devido à baixa remuneração
quanto ao modelo de contratação adotado pelas redes públicas de ensino do país.
Diferentemente de outros países, em geral, os estados e municípios brasileiros
não possuem políticas que garantam que os professores atuem exclusivamente em
uma única escola. Portanto, é comum que os professores tenham que trabalhar em
mais de uma unidade escolar, em diferentes etapas de ensino e até mesmo em
redes distintas para alcançar uma remuneração adequada.
De acordo com a pesquisa da Fundação Carlos Chagas, 20%
dos professores trabalham em mais de uma escola, enquanto nos três países
analisados essa proporção não ultrapassa 5%. Além disso, 61% dos docentes atuam
em mais de uma etapa da educação e 30% trabalham em redes de ensino diferentes,
uma realidade que não ocorre nos demais países.
Gabriela Moriconi, autora do estudo, explica: “Nesses
países, os professores dão aulas para menos alunos porque conseguem se fixar em
uma única escola. No Brasil, a política de contratação não permite essa
condição, e o docente precisa ampliar sua carga horária em sala de aula,
atendendo a muitas turmas”.
A pesquisa identificou redes de ensino em que a média
chega a 525 estudantes por professor. Professores entrevistados também relatam
as dificuldades enfrentadas. Uma professora de história em duas escolas
estaduais de Belém, que prefere não ser identificada, está lecionando para 15
turmas, totalizando mais de 540 alunos.
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